Minério: estudo revela que zonas de Canas de Senhorim têm "elevadas doses de radiação"

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O partido ecologista quer que as populações sejam ressarcidas pelos danos causados à saúde Paulo Novais/Lusa

O estudo MinUrar, divulgado ontem à noite, estudou os efeitos das minas de urânio, nomeadamente as da Urgeiriça, e seus resíduos na população de Canas de Senhorim e de sete freguesias limítrofes. O MinUrar constatou que há "potencial para que a população" desta freguesia "possa receber uma dose de radiação externa mais elevada" do que as restantes freguesias estudadas.

As concentrações de substâncias radioactivas com origem no urânio foram detectadas no complexo mineiro – onde estão armazenados "escombros, minérios pobres, rejeitos do tratamento de minérios, lamas do tratamento de águas, sucatas e outros restos de equipamentos e resíduos de demolição das infra-estruturas do complexo industrial” - nos solos, águas, produtos hortícolas e no radão existente no ar exterior e interior das habitações.

O estudo coordenado pelo Observatório Nacional de Saúde (ONSA) revela que a exposição a material radioactivo das minas de urânio em Canas de Senhorim (Nelas) diminuiu a capacidade reprodutiva dos homens e o funcionamento da tiróide em toda a população.

Na sequência do trabalho efectuado pelo ONSA, o ministro da Saúde, António Correia de Campos, emitiu um despacho no início de Julho no qual determina que a Direcção-Geral da Saúde deverá propor medidas no sentido de monitorizar e prestar "apoio de saúde" às pessoas expostas aos riscos. O despacho ministerial informa ainda que o Ministério da Economia "dispõe já de um programa de minoração dos riscos ambientais e de recursos financeiros para o seu início, cujo lançamento ocorrerá ainda no corrente mês".

O estudo abrangeu 966 pessoas de ambos os sexos, com uma idade média de 55 anos e com um tempo médio de residência nas freguesias estudadas de 40 anos. Além de Canas de Senhorim, foram estudadas as populações de das freguesias de Queira (concelho de Vouzela), Rio de Mel (S. Pedro do Sul), Moreira do Rei (Nelas), Sátão (Sátão), S. Pedro (distrito de Viseu), Campo (concelho de Viseu) e Seia (concelho de Seia).

Coordenador do estudo diz que Canas de Senhorim "não tem razões para estar em pânico"

No final da apresentação à população do estudo, Marinho Falcão frisou que "neste momento não há evidências de que haja algo de catastrófico no ambiente" da freguesia.

A contaminação de metais pesados e a radiação apenas apresentam valores mais elevados no local da exploração do urânio e nas escombreiras (local de acumulação das partes não aproveitáveis dos minérios).

"E não há evidência de que afecte de forma muito drástica a saúde da população. Há pequenas consequências que pensamos que poderão estar associadas à mina, à radiação e aos metais pesados, mas, neste momento, não me parece que a população esteja num risco elevadíssimo", frisou o responsável do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge.

Marinho Falcão explicou que o estudo "permitiu concluir que as pessoas que habitam na freguesia de Canas de Senhorim têm um conjunto de parâmetros com valores que estão mais fora daquilo que é normal", quando comparados com os das populações das outras sete freguesias envolvidas no estudo e que não estão expostas às minas de urânio.

O responsável esclareceu que, ainda que possa haver alguns populares doentes, em média, os valores encontrados pelo estudo "não indicam necessariamente a existência de doenças".

De acordo com Marinho Falcão, para que o estudo fique completo, faltam conhecer os parâmetros relacionados com as análises dos cromossomas e do polónio dos cabelos, que só deverão estar prontos no final do ano.

No final da sessão de hoje, o presidente da Junta de Freguesia de Canas de Senhorim, Luís Pinheiro, anunciou hoje que vai pedir ao Governo que seja desenvolvido um estudo mais aprofundado à saúde dos cerca de 200 habitantes da Urgeiriça. Luís Pinheiro admitiu ter ficado aliviado com os resultados apresentados, porque, ainda que haja "valores que efectivamente estão alterados, não é nada de preocupante".

Num comunicado enviado ao PUBLICO.PT, o partido ecologista “Os Verdes”exige “medidas urgentes”para um problema que “pode ter repercussões a longo prazo” e que já “deveriam estar em fase de conclusão e não ainda a dar os primeiros passos”.

“Os Verdes” garantem que vão “acompanhar atentamente a forma como está a ser prevista a selagem das escombreiras”. O partido adianta que vai apresentar propostas “no sentido de serem ressarcidas as populações (...) pelos danos causados à sua saúde e pelo entrave ao desenvolvimento que aquele problema ambiental trás à freguesia e ao concelho”.