Colecção Champalimaud é hoje leiloada pela Christie's em Londres

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Este quadro de Canaletto promete ser a estrela do leilão DR

Champalimaud morreu no ano passado, aos 86 anos, e era considerado o homem mais rico de Portugal. A venda da sua colecção, decidida pelos herdeiros, vai beneficiar principalmente a Fundação Champalimaud. Criada por testamento e presidida por Leonor Beleza, a fundação é herdeira de 25 por cento da fortuna e propõe-se fazer investigação científica na área da saúde.

"Há vários portugueses interessados no leilão", diz Pedro Girão. São coleccionadores que o vice-presidente não pode identificar, mas que "apostaram muito forte" nas licitações prévias. Alguns deles estarão hoje presentes no leilão, outros licitam por telefone, explica Girão. Assim, "há a possibilidade de algumas peças regressarem a Portugal".

Sotheby's vende amanhã dois Canalettos

Em Londres, a expectativa mínima de venda do conjunto situa-se nos 22 milhões de euros. "Pode ultrapassar. Vamos ver. Há bastante interesse nas peças mais importantes", diz Girão. Há 18 anos na Christie's, Girão diz que esta é "a colecção privada portuguesa mais importante, identificada e inteira" que a leiloeira já vendeu. "Houve muitas coisas vendidas durante a revolução" de Abril, mas a proveniência não estava identificada. Para a Christie"s, é a venda mais importante da temporada, diz o comunicado de imprensa.

Mas amanhã a grande rival Sotheby's também tem como estrelas de um leilão dois Canalettos, com bases de licitação mais elevadas. Um deles, O Grande Canal visto do Palazzo Balbi para a Ponte do Rialto, tem o atractivo de ter sido feito para o nº 10 de Downing Street, uma encomenda do primeiro-ministro inglês e grande coleccionador Sir Robert Walpole. Vai à praça por 8,8 milhões de euros.

"São Canalettos diferentes. Os outros dois foram pintados em Itália. O nosso é mais representativo. É do período inglês de Canaletto e foi pintado para a casa de campo de um lorde inglês", diz Girão.

Uma conservadora do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), Maria Antónia Matos, que viu em Londres a colecção da Christie's, diz que este "é um grande acontecimento" e a colecção "extraordinária".

Champalimaud começou a fazer a sua colecção nos anos 50. É um incomparável conjunto da arte francesa do século XVIII, que até à morte do milionário decorava o seu palácio da Rua do Sacramento à Lapa, em Lisboa. Comprou obras dos pintores franceses Boucher, Fragonard, Greuze, Hubert Robert, móveis franceses, principalmente peças neoclássicas de Luís XVI, pratas de gosto francês e porcelanas chinesas com guarnições francesas, etc. Outra das suas paixões, diz Girão, eram as vedute (vistas) italianas, representadas pela estrela do leilão, o Canaletto, mas também por mais duas obras do mesmo artista e quatro outras de Guardi. "Ele amava as peças. Não as comprava por investimento de certeza absoluta", comenta Girão, que conhecia "muito bem" Champalimaud.

Pinto de Matos, especialista em porcelana chinesa, chama a atenção para a raridade e importância do par de leopardos: "Os leopardos estão a um preço equiparado à melhor pintura. Ficam aquém do Canaletto, mas a um preço superior de um mestre consagrado como o Boucher. As peças de porcelana ou mobiliário, quando têm grande qualidade, são igualmente caras."

Segundo o especialista em leilões Anísio Franco, também do MNAA, é natural que haja muitos portugueses interessados neste leilão: "Ele foi muito publicitado em Portugal. Há também uma apetência emocional, uma espécie de fétiche, porque Champalimaud era uma figura ímpar da história portuguesa. É uma colecção muito valiosa, uma boa aposta em termos financeiros."

Em termos internacionais, a colecção mostra um gosto clássico, divulgado pelo grande comércio internacional. As compras foram feitas maioritariamente nos anos 50 e 60 em Londres e Paris. Champalimaud sabia que a partir da sua colecção não fazia sentido fazer um museu, diz Anísio Franco. "Tinha a consciência de que era simplesmente o recheio de uma casa rica onde as coisas eram boas e poderiam facilmente ser liquidadas", escreveu Anísio Franco na revista L+Arte.

A saída da colecção de Portugal foi autorizada pelo Instituto Português de Museus, com a justificação de que a sua exportação não podia ser evitada, uma vez que as peças são estrangeiras e foram compradas há menos de 50 anos.

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