Quinta da Prelada vai ser centro cultural
Edifício antigo vai ser transformado em espaço de arquivo e restauro da Misericórdia do Porto; um terço da quinta é da autoria de Nicolau Nasoni
A Quinta da Prelada, no Porto, vai ser transformada no Centro Cultural D. Francisco Noronha de Menezes, um espaço para arquivo e restauro das obras da Santa Casa da Misericórdia do Porto. O projecto foi encomendado em Agosto de 2004 ao arquitecto António Leitão Barbosa, que já teve uma pré-consulta com o Instituto Português do Património Arquitectónico (Ippar), aguardando-se resultados por esta altura. O espaço foi doado à Misericórdia em 1904 pela família Noronha de Menezes. "A Santa Casa precisava de um centro cultural. Aquele edifício estava degradado e não tinha o mínimo de condições", afirmou ao PÚBLICO o provedor da Misericórdia, Guimarães dos Santos. "Nós temos um arquivo histórico de valor incalculável para a cidade e para o país, que podemos transferir para um local com mais segurança, com maior facilidade de acesso e com condições de trabalho para os investigadores", explicou o provedor. Por outro lado, "a Santa Casa é detentora de um espólio de quadros, pinturas e esculturas que estão depositados em várias instalações e que precisam de ser recuperados".
Nesse sentido, será preservado o edifício principal e outro será criado na margem lateral direita da quinta, destinado ao arquivo. O palacete ficará com as salas de reuniões, palestras e espaços para exposição de património artístico. A parte de trás do edifício será ampliada para alojar o centro de restauro. Além disso, está prevista a recuperação dos jardins. Ao todo, o valor da obra está estimado em dois milhões e 900 mil euros. O provedor afirma que "não será por falta de financiamento que a obra não vai para a frente", nem que para isso tenha de recorrer a apoios nacionais ou estrangeiros.
A área, classificada como imóvel de interesse público, contempla toda uma estrutura palaciana monumental. Em declarações ao PÚBLICO, o arquitecto Leitão Barbosa mostrou-se confiante quanto ao parecer favorável do Ippar. "A proposta obedece ao princípio de que os objectos arquitectónicos têm vidas e sobreposições de tempos. Há vestígios do século XVII, XVIII, XIX e até XX. Por isso, terá lugar para intervenções nos séculos XXI, XXII e por aí fora", afirmou.
No estudo feito por um especialista de edifícios históricos, Jaime Campos, concluiu-se que os fidalgos da Prelada encomendaram a Nicolau Nasoni, no século XVIII, um palacete barroco com uma escala fora do normal, de forma a ir substituindo a sua casa. O arquitecto crê que o projecto original teria quatro torres, mas acabou por ficar incompleto devido à ambição da obra. Hoje, a quinta encontra-se dividida pelo Hospital da Prelada, o parque de campismo e as zonas residenciais. Apenas um terço do espaço existente é da autoria de Nasoni. António Leitão Barbosa tece ferozes críticas ao facto de a quinta ter sido cortada a meio pela Via de Cintura Interna, isolando aquilo que acredita ser um dos primeiros edifícios neogóticos do mundo, em forma de castelo, junto ao parque de campismo.