Carlos Gardel O mítico tanguero morreu há 70 anos

O homem que eternizou o tango gravou 1500 canções. Dizia-se "vítima dos cavalos lentos e das mulheres rápidas"

A América do Sul celebra esta semana o nascimento do mito de Carlos Gardel, o cantor que eternizou o tango e que morreu há 70 anos. Gardel, nascido provavelmente a 11 de Dezembro de 1887 e morto num acidente de avião a 24 de Junho de 1935, durante uma tournée na Colômbia, foi o primeiro cantor a tornar popular o ritmo sincopado do tango, em digressões nos cabarés e clubes da América Latina, Nova Iorque, Paris e Espanha.
Imortalizado em poses de dandy, com um grande sorriso nos lábios, o Mágico, desaparecido aos 48 anos, continua a ser um dos símbolos dos loucos anos 20 e 30, das louras platinadas e do mundo agitado das corridas de cavalos, que o apaixonavam. Gardel admitiu ter ganho muito dinheiro e ter perdido outro tanto, dizendo-se "vítima dos cavalos lentos e das mulheres rápidas".
As 1500 canções que gravou ainda são ouvidas em todo o continente americano, na Europa e Ásia, onde nos últimos anos o tango conquistou japoneses e coreanos, que frequentemente ganham os primeiros prémios em concursos internacionais de dança.
Os discos vinil e os cerca de 20 filmes - precursores dos videoclips - que gravou nos Estados Unidos, em França e na Argentina fazem as delícias dos coleccionadores e contribuíram para construir a sua reputação de "amante latino".
A vida sentimental deste barítono com voz calorosa, que foi obeso (118 quilos em 1916) e teve que se submeter a sessões de ginástica para recuperar a forma física, foi preenchida por aventuras com actrizes e milionárias da Côte d"Azur.
Gardel "era um ser encantador, muito sedutor", confidenciou à AFP Cristina Chichita Razzano, de 83 anos, que interpretou um famoso duo com o cantor. "Sentia-me atraída pela sua personalidade e creio que ele também pela minha."
O sucesso valeu-lhe diversos apelidos (o Mágico, o Tordo Crioulo), por vezes irónicos (o Mestiço ou o Moreno de Abasto, bairro de Buenos Aires onde cresceu), que alimentaram a polémica acerca do seu local de nascimento.
Para os argentinos, Gardel nasceu em Toulouse (França) e veio muito novo para Buenos Aires, com a mãe, Berthe Gardès. No entanto, investigadores uruguaios descobriram documentos com declarações do cantor sobre o seu nascimento em Tacuarembo (Norte do Uruguai), fruto da relação de um proprietário rural com uma cunhada menor, e sobre a sua adopção por Berthe, uma prostituta.
Uma coisa é certa: deu o último concerto em Bogotá, na Colômbia, e a sua morte prematura evitou a decadência da velhice, fixando na memória colectiva o seu timbre de voz.
O seu túmulo, no cemitério da Chacarita (Buenos Aires) - assinalado com uma estatueta em bronze que o mostra de fraque, fumando um cigarro -, é um local de peregrinação, visitado com um fervor quase religioso por latino-americanos, europeus e japoneses, que ali depositam oferendas, testemunhos de reconhecimento e gratidão.
O mito de Gardel é também visível em Bogotá, onde foi construído um museu à volta da cadeira de um barbeiro que o cantor frequentou - a Casa Gardeliana. "Aqui Gardel é uma religião, uma crença que se vive intensamente", contou à AFP Leonardo Nieto, um argentino que vive em Medellín (Colômbia). "Foi a primeira coisa que me surpreendeu nesta terra colombiana."
No Chile, todos os meses de Junho "é feita uma homenagem ao nascimento de um mito, não à morte de Gardel", explicou o actor Jorge Alis, organizador das festas de Santiago, Viña del Mar e arredores.
No Uruguai, estão também previstos numerosos espectáculos e comemorações e a rádio Clarín difunde os 400 melhores registos de Carlos Gardel seis horas por dia. AFP

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