Ler Devagar vai sair da Rua de São Boaventura
O edifício no Bairro Alto, em Lisboa,
vai ser transformado
em condomínio
A livraria Ler Devagar vai sair do espaço que ocupa desde a fundação, há seis anos, na Rua de S. Boaventura, no Bairro Alto, em Lisboa.Os proprietários do edifício querem transformá-lo num condomínio de habitação. Os responsáveis pela Ler Devagar, uma sociedade anónima, já estão à procura de um espaço, disse ontem José Pinho, o principal accionista, que deseja que a mudança seja feita o mais rápido possível. A zona de preferência é o Bairro Alto, onde Pinho já identificou cinco lugares, mas admite vir a procurar nas zonas envolventes (Chiado, Cais do Sodré, Príncipe Real, Rato, São Bento, Santos).
A Ler Devagar é uma livraria de fundos onde não entram best-sellers e onde a poesia é das áreas que mais vende, mas é também um espaço cultural que organiza exposições, debates, conferências, espectáculos, lançamentos de livros...
A Ler Devagar comprometeu-se a desocupar o espaço até 31 de Agosto, mas o acordo permite ficar até 31 de Outubro. No entanto, o armazém, onde estão a maioria dos artigos da livraria (40 mil), tem que ser já desocupado devido às escavações que começam a 1 de Julho na área contígua ao auditório. O projecto do condomínio ainda não foi aprovado pela Câmara Municipal de Lisboa (CML), mas as escavações serão feitas para que o Instituto Português do Património Arquitectónico verifique a existência de património no subsolo.
O edifício foi propriedade da Lithografia Portugal, que constituiu uma empresa, Vileca, para explorar o parque de estacionamento à qual a Ler Devagar paga uma renda simbólica de mil euros por 270 metros quadrados. O armazém era cedido gratuitamente. "Sabemos que não vamos encontrar outra renda parecida", diz Pinho.
Com um capital social de 300 mil euros, aplicado em fundos (livros, discos, postais, revistas, etc), a Ler Devagar não pode gastar mais do que 50 mil euros na mudança. Por isso escreveu uma carta que enviará a algumas entidades, nomeadamente à CML, solicitando apoio logístico e cedência de espaço.
"Mais de 90 por cento dos livros que temos são nossos, o que é uma loucura", diz o responsável, que considera que o projecto deve ser apoiado. Apesar de ser uma sociedade comercial, o principal objectivo dos mais de 100 accionistas não é ter dividendos, mas financiar a componente cultural do projecto, diz Pinho. "Precisamos de um espaço. Como quem tem alguns espaços são as entidades públicas, estamos a procurá-las. Queremos pagar renda, não queremos é pagar preços especulativos."