Pequena pérola num retrato revela amor secreto de Rafael

O pequeno adorno no quadro Fornarina dá pistas para um caso mantido em segredo durante séculos

A pérola no turbante que cobre a cabeça da jovem retratada no quadro Fornarina, do pintor renascentista Rafael, faz parte de uma série de alusões ao casamento secreto do artista com a filha de um padeiro - apesar de ele estar publicamente noivo da sobrinha de um poderoso cardeal do Vaticano, afirma um estudo divulgado em Milão por historiadores. Oficialmente, Rafael morreu solteiro aos 37 anos, em 1520. "Era um amor impossível" , resume Maurizio Bernardelli Curuz, editor do jornal especializado Stile, que participou na investigação de um ano ao enigma romântico que envolve o pintor. A pérola, também incluída noutro retrato, Velan, sugere que o nome da mulher era Margherita - a palavra latina para pérola - e não Maria Bibbiena, a prometida do pintor. Margherita aparece ainda ligada a uma série de alusões nupciais em Fornarina, desde a fita no braço com o nome de Rafael (forma invulgar de assinar um quadro) à aliança de casamento mais tarde tapada."Pode parecer-nos artificial, mas (...), pelo menos até ao século XVIII, o lado alegórico da pintura era extremamente importante. Foi o impressionismo que toldou a nossa capacidade de ler um quadro como se fosse um livro", nota Curuz.
A ideia de que Margherita era amante de Rafael não é inteiramente nova - os pintores Ingres e Picasso e o romancista Balzac fizeram-lhe referência. Mas Curuz e a sua equipa investigaram os vários símbolos e encontraram documentos que mostram que os dois casaram numa cerimónia secreta, prática comum na altura. Dizem também ter provado que Margherita é o sujeito não apenas em Fornarina mas em Velata, retrato encoberto daquela de quem sempre se disse ser a mulher que Rafael "amou até à morte".
Apesar disso, a existência dela foi mantida em segredo, inclusive com alunos de Rafael a cobrirem o anel de casamento colocado pelo pintor na sua mão esquerda em Fornarina. Porquê? Por recearem, diz o estudo, que isso revelasse o casamento e fizesse com que o pintor (e a sua escola) perdesssem a encomenda para pintar a Sala di Constantino no Vaticano. "Teria sido a bancarrota", assinala Curuz. Para silenciar todos os rumores, os estudantes colocaram no túmulo do mestre uma placa em memória da sua noiva eterna, Maria Bibbiena. Quanto a Margherita, foi afastada: quatro meses depois da morte de Rafael, o Convento de Sant"Apollonia, em Roma, registou a chegada da "viúva Margherita", filha de um banqueiro de Siena. Jornalista da Reuters

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