Deputado acusa Governo do Brasil de corrupção mas poupa o Presidente Lula da Silva
Depoimento formal de Roberto Jefferson sem provas sobre o caso "mensalão". O processo legislativo continua parado e Executivo refém da oposição
O muito esperado depoimento do presidente do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), Roberto Jefferson, começou ontem à tarde no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados. Jefferson começou por acusar o Governo e o Partido dos Trabalhadores (PT) de corrupção na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, um caso em que o próprio Jefferson é acusado."O PTB não é responsável pela corrupção nos Correios. Ali tem a mão do Governo", disse Roberto Jefferson, passando depois para questões relacionadas com verbas destinadas aos partidos. O líder do PTB acusou responsáveis do Executivo e do PT por não cumprirem os acordos de financiamento da campanha do seu partido em troca de apoio no Parlamento, visando especialmente o ministro da Casa Civil, José Dirceu.
Mas poupou, no entanto, o Presidente Lula. "É um homem do povo, mas decente", afirmou Roberto Jefferson, referindo-se mesmo a Lula como "meu líder".
"Lula sabe o que é pobreza. O ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso só ouviu dela pelos livros de Guimarães Rosa. O ex-Presidente Fernando Collor só sabe de miséria pelos versos de Catulo da Paixão Cearense", enumerou. "Lula não. Mas a gente não chegava até ele. O José Dirceu barrava todo mundo."
O presidente do PTB foi irónico, agradecendo ao presidente do Partido Liberal (PL), Valdemar Costa Neto, pela oportunidade de dizer à nação tudo o que sabe sobre o suposto pagamento de propinas a deputados da base aliada do Governo, num escândalo conhecido como "mensalão". O PL entrou com uma queixa formal contra Jefferson por este apresentar denúncias sem provas.
O deputado petebista disse que não vai renunciar ao mandato. "Garanto que não corro, não renuncio ao meu mandato. Não abro mão desse sentimento republicano e democrático que partilho aqui com o povo do meu estado e do meu Brasil."
À espera de testemunhas
Jefferson referiu-se ainda às entrevistas em que fez estas alegações. "Confirmo integralmente as entrevistas dadas à jornalista da Folha de S. Paulo", disse o deputado, que preferiu apresentar oralmente suas explicações ao Conselho de Ética. Ao diário, Jefferson tinha afirmado que o PT pagava trinta mil reais (cerca de dez mil euros) por mês aos parlamentares do Partido Popular e do Partido Liberal que votassem a favor dos projectos do Governo.
Jefferson tem agora até amanhã para apresentar testemunhas.
Analistas políticos avaliam que, apesar de toda a veemência, sem provas, quem sai ferido no processo é mais Jefferson do que o Governo Lula, uma avaliação que ganha força depois de sinais de recuperação da bolsa, que fechou em alta. A crise aberta por Jefferson, porém, parece longe do fim. O processo legislativo está parado e o Governo refém da oposição.