Qual o valor do edifício das Moagens Harmonia?
Qual o valor do edifício
das Moagens Harmonia?
O edifício das Moagens Harmonia é considerado um raro exemplar de arquitectura industrial - dado que constitui uma moagem a vapor -, construído sobre uma plataforma artificial nas margens do rio Douro, no Porto, junto à foz dos rios Tinto e Torto. A estrutura oitocentista está incrustada nos antigos jardins do Palácio do Freixo (monumento de traça barroca desenhado pelo arquitecto italiano Nicolau Nasoni, um conjunto classificado recuperado na última década segundo um projecto de Fernando Távora). Miguel Rodrigues, responsável da Direcção Norte do Instituto Português do Património Arquitectónico, garantiu ao PÚBLICO que o imóvel está em vias de classificação. Para o geógrafo Álvaro Domingues, professor da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, esta convivência inusitada é "quase uma metáfora da relação do Porto com o rio, assim como da passagem da cidade da aristocracia à cidade da burguesia industrial". As Moagens Harmonia foram erguidas - refere Domingues num texto sobre o Museu da Ciência e da Indústria - de uma forma "inovadora", com "materiais como a pedra, o ferro e a madeira" e com um projecto de raiz "a pensar na função e na tecnologia associada".
O mesmo documento recorda ainda a relação íntima da fábrica com o Douro: a companhia precisava de água para alimentar as máquinas a vapor, assim como de uma via navegável e de um cais para receber as cargas carvoeiras e as matérias-primas. Álvaro Domingues defende ainda que metade do interesse do museu "é o próprio edifício". O especialista explica que a tecnologia alemã que tornou a sua construção possível faz do imóvel um exemplar raro deste tipo de arquitectura industrial, dado que, durante a Segunda Guerra Mundial, terá sido destruída uma boa parte dos seus congéneres no território germânico. "O prédio vibrava na sua totalidade durante o trabalho das máquinas a vapor, sem desmoronar", entusiasma-se Domingues, que elogia ainda a singular "verticalidade" face à monotonia horizontal das naves industriais.
Na sua opinião, "perde-se completamente o edifício, ficando apenas a casca, se ali for construída uma pousada com 70 quartos", pois "nada naquele edifício está preparado" para a compartimentação de um amplo espaço em sucessivas pequenas divisões. Hoje, o edifício precisa de obras na sua globalidade, uma vez que não são feitas intervenções de fundo desde os anos noventa. Apesar de existir um plano de requalificação para o local, encomendado propositadamente ao arquitecto João Paulo Rapagão, o projecto nunca chegou a sair do papel.