Super Bock Super Rock: Iggy Pop, "dinossaurus rex"
Iggy Pop e os seus Stooges são uma lição viva. Velha, mas viva. A vitalidade e boa forma deste senhor quase sexagenário pode começar por ter ares de pose já demasiado usada, de clichés recorrentes, de um postura mais que vista. Mas o desenrolar do concerto provou outra coisa: é que em Iggy, tudo é espontâneo. Ele é "inventor" de muitos dos muitos gestos de rebeldia reclamados por outras bandas. É um dinossauro até na maneira de se mover, que pode lembrar os "raptors" de "Jurassic Park". Ele rapta para o presente uma forma de fazer música que, afinal, não está datada. Rapta também membros da plateia para fazer a festa consigo, porque o mais importante continua a ser o público. É punk, é rock, é extremamente contagiante mesmo para quem não esperava nada do seu concerto. Ali ao lado, o palco da Quinta dos Portugueses forneceu o ambiente certo. Os Bunnyranch actuaram antes. Os Wray Gunn, depois. A sequência foi das mais bem conseguidas de todo o festival.
Depois, chegaram os Audioslave. Aqui, super rock é sinónimo de super grupo. Chris Cornell e ex-Rage Against The Machine ofereceram um concerto potente, que só pecou pela rouquidão do ex-vocalista dos Soundgarden. Ainda assim, mobilizaram a multidão para a sua causa (sendo que boa parte dela já ia mobilizada): o novo álbum "Out of Exile" está aí e anuncia-se a continuação da fidelidade a este "mix" explosivo de personalidades musicais. Muito bem-vindos foram os inesperados resgates ao baú: "Spoonman" e "Black hole Sun" (acústico), dos Soundgarden, e o clássico "Killing in the name", dos Rage.
O pregador Marilyn Manson encerrou o festival com mais uma dose de gore-metal-andrógino-grotesco, sem pouco acrescentar àquilo que Portugal já vira. Passeou-se de negro pelos sucessos de "Lest We Forget" e cumpriu o que esperavam as milhares de pessoas que foram ao Parque do Tejo só para o ver: um espectáculo visualmente impressionante, provocação q.b. e músicas poderosas. Mas o concerto não chegou a atingir o clímax e terminou precocemente. O que, para o autoproclamado "god of fuck"” não é propriamente uma mais-valia.
No palco principal, resta destacar a forma como, depois dos Wednesday 13, os recomendados Mastodon fizeram tremer o recinto e instalar o primeiro "mosh pit" a sério (cabeças partidas incluídas), e o concerto dos cultuais Slayer que, dentro do seu género, continuam a ser "a" proposta vital (ainda mais – sobretudo – depois do regresso no inigualável baterista Dave Lombardo). Os portugueses RAMP fizeram a gentileza de aquecer as hostes, aproveitando o EP "Planet Earth" para renovar o alinhamento.
Continuando no palco "tuga" (que abriu com More Than A Thousand), podemos voltar aos Bunnyranch e Wray Gunn, e ao seu do "rock n' roll" "made in Coimbra"” com o olhar no Mississippi, que fez estalar o calor e a dança. Mas os principais protagonistas foram os cabeças-de-cartaz Blind Zero, que souberam tirar o melhor partido da meia-hora que lhes tinha sido atribuída. Ao invés de dispararem músicas atrás de músicas num curto espaço de tempo – como várias outras bandas – optaram por uma solução bem melhor: tocar sem medo de acabar. Foi sem pressas que ofereceram temas como "Tree", "Skull" ou o novo "Shine on" (cuja recepção faz prever braços abertos para o álbum, "The Night Before and a New Day").
Ainda não há números oficiais, mas a noite parece ter congregado tantos ou mais adeptos que a de sexta-feira, em que estiveram perto de 30 mil pessoas (contra as 25 mil de sábado). A 11ª edição do festival ficou marcada pela bom funcionamento das infra-estruturas de apoio, em contraste com a saturação registada no ano passado perante uma afluência de 50 mil pessoas no último dia.