Rua da Indústria testemunha decadência fabril da Covilhã
A ribeira da Carpinteira, que a atravessa, concentrou ali, no século XX, dezenas de unidades industriais. Hoje, a artéria que albergou nomes sonantes como Nova Penteação e Lanos Fabril, quase não passa de uma via de ligação entre dois pontos da cidade covilhanense.
Apesar de denominar-se de Rua da Indústria, a artéria que liga a Frei Heitor Pinto a Cantar Galo há muito que deixou o título para trás, para exibir, aqui e ali, dezenas de fábricas, desactivadas - a maioria votada ao abandono - ou reconvertidas. Com o seu apogeu em meados do século XX, a rua assumiu-se nesses tempos, designadamente entre as décadas de 50 e 70, como um dos principais pólos da indústria têxtil e de lanifícios, tendo os anos que se seguiram à revolução de Abril condenado algumas unidades à falência. Outras, poucas, transferiram-se para outros pontos da Covilhã.Quem deixa o jardim público em direcção à zona dos Penedos Altos - bairro que nasceu da necessidade de os trabalhadores se fixarem nas proximidades da rua - não pode deixar de notar, à medida que avança pela artéria, nos muitos vestígios que ela herdou da época da "cidade-fábrica" ou, como outros lhe preferem chamar, da "Manchester portuguesa". Esta será, certamente, uma das ruas onde mais vestígios industriais existem. Um dos primeiros a avistar-se é o imponente edifício amarelo que foi a primeira morada da conhecida fábrica Nova Penteação, uma das unidades mais fortes da cidade, com maior capacidade empregadora, tendo chegado a dar trabalho a mais de 500 pessoas. Esta foi uma das que sobreviveram à instabilidade que o 25 de Abril provocou nos têxteis, tendo-se mudado pouco depois para o Parque Industrial do Canhoso, onde ainda permanece, embora tenha mudado de nome há ano e meio, quando foi adquirida por Paulo de Oliveira,
Ao longo da rua pode, aliás, perceber-se a importância e o movimento que a zona teve outrora. Quem espreita a ribeira da Carpinteira, que atravessa a rua, antes de chegar à zona de bares, junto à padaria que ali está, apercebe-se das dezenas de pequenos edifícios degradados que se estendem lá ao fundo, ao longo do curso de água. Daqui também se avista uma unidade que muitos garantem ser anterior à Revolução Industrial. A ribeira da Carpinteira explica, de resto, o elevado número de fábricas que ali se fixou outrora e deu nome à rua, não tivesse a Covilhã percebido muito cedo o potencial energético da força motriz da água e a sua utilidade para fases como a lavagem e a tinturaria.
Mais à frente, está um dos ex-líbris da noite covilhanense: a Discoteca & Companhia. Este estabelecimento nocturno resultou da recuperação de uma antiga unidade que ali existiu. O mesmo aconteceu aos bares Faculdade da Cerveja e Armazém e ainda ao Pão de Lua, que estão igualmente em antigas instalações fabris. Quem continua em direcção a Cantar Galo depara-se mais à frente com outro imponente edifício, em avançado estado de degradação, e depois com as antigas instalações da 7 Fontes - que pertenceram a uma fábrica têxtil antes. Quase ao fim da rua, encontra o que restou da Lanos Fabril, outra unidade de peso no panorama da indústria têxtil da "Manchester portuguesa".
Curiosamente, as fábricas que existiram na Rua da Indústria dedicavam-se especialmente às fases de lavagem e tecelagem, sendo que as restantes fases, da fiação e tinturaria, se concentravam noutros pontos da cidade, perto da ribeira da Goldra. A Lanos Fabril era uma das excepções, uma vez que também tinha fiação.
Ainda neste troço da rua, não passa despercebida a intervenção que a câmara municipal iniciou este ano no sentido de melhorar a circulação automóvel e disciplinar o tráfego. Aqui, até há bem pouco tempo, imperava o caos, com a via, de dois sentidos, a ser apertada e com o estacionamento a fazer-se em cima do passeio. Foram criados estacionamentos, a rua foi pavimentada - estava em paralelos nesta zona - e uma das curvas, que se exibia perigosa, foi rectificada.
f O apogeu da Rua da Indústria aconteceu entre os anos 50 e 70 do século XX
f A ribeira da Carpinteira foi a principal causa da concentração de fábricas
f A Nova Penteação permaneceu na rua até ao 25 de Abril
f As fábricas desta rua dedicavam-se à lavagem e tecelagem
f A rua alberga uma zona nocturna
f A Discoteca & Companhia resultou da reconversão de uma antiga unidade fabril