Oskar Lafontaine abandona SPD
O ex-presidente dos sociais-democratas alemães (SPD), Oskar Lafontaine, que quer apresentar-se nas legislativas antecipadas (prováveis para Setembro) como candidato de uma aliança de esquerda, anunciou ontem que deixou de integrar o SPD. "Sempre disse que a minha filiação ao partido seria formalmente terminada se o SPD fosse para eleições legislativas com a Agenda 2010 [programa de reformas do Estado providência] e a Hartz IV [a reforma de subsídios de desemprego]", disse Lafontaine, numa entrevista ao jornal Bild. Depois, numa entrevista à televisão ZDF, confirmou o abandono do partido, mas precisou não ter ainda enviado a sua carta de desvinculação ao SPD, referindo contudo que isso era apenas uma mera formalidade.
Na entrevista ao Bild, o antigo ministro das Finanças, agora com 61 anos, declarou-se favorável à criação de uma coligação que reúna os neocomunistas do PDS e a WASG, um partido de esquerda recém-formado, e que seja inspirada no "modelo italiano da coligação da Oliveira".
O PDS, herdeiro directo dos comunistas da RDA, está bem implantado na Alemanha de Leste, participando nos governos regionais de dois "lander", mas é quase inexistente no Oeste do país. A WASG (Alternativa eleitoral para o trabalho e a justiça social) foi criada em Janeiro por desiludidos da política da coligação SPD-Verdes e apresentou-se pela primeira vez nas urnas nas regionais da Renânia do Norte-Vestefália. Com 2,2 dos votos não ficou representado no parlamento regional.
Lafontaine, candidato derrotado do SPD à chancelaria em 1990, foi sempre um franco-atirador dentro do partido e um dos tenentes da sua ala esquerda, criticando em alturas distintas a instalação de mísseis da NATO na Alemanha, as condições e o custo da reunificação ou ainda a evolução liberal do SPD no plano económico.
Como ministro das Finanças tentou apresentar-se como o guardião do templo social-democrata insensível às sirenes modernistas incarnadas por Schroeder. O choque entre os dois saldou-se com a demissão do primeiro em Março de 1999.