Do império Grão-Pará...
O nome de Abel Pinheiro surge por vezes associado à intermediação
de negócios mas é como accionista e administrador do grupo Grão-Pará, presidido por sua mãe, Fernanda Pires da Silva, que se destaca.
Agora, foi devido à sua condição de responsável pelas finanças do CDS
que o seu nome emergiu. Por Cristina Ferreira e Helena Pereira
Polémicas, contenciosos, diferendos, são algumas marcas que têm acompanhado a vida do grupo Grão-Pará, de que Abel Pinheiro é accionista e administrador executivo. Este grupo empresarial e a sua passagem pelo CDS/PP são dois traços distintivos da vida pública daquele administrador, hoje investigado por suspeitas de tráfico de influências.Filho da empresária Fernanda Pires da Silva, Abel Pinheiro nasceu em Lisboa há 59 anos. É casado com uma neta do ex-presidente do Conselho de Ministros Marcelo Caetano e tem dupla nacionalidade luso-brasileira. Em 1950, parte com a mãe para o Brasil. Tinha apenas quatro anos. Do outro lado do Atlântico, Pires da Silva inicia a sua carreira de empresária, fundando a Predial e Administradora Grão-Pará, que opera nos estados do Rio de Janeiro, Goiás e Guanabara. Abel Pinheiro licencia-se pela Universidade de Direito do Estado de Guanabara, estando actualmente inscrito na Ordem dos Advogados.
Expansivo e cordial, o seu nome surge por vezes associado à intermediação de negócios vários, mas é como accionista e administrador do grupo Grão-Pará que se destaca. Este grupo, de que é ainda presidente a mãe, Fernanda Pires da Silva, estende a sua actividade a áreas tão distintas como a imobiliária, turística, gestão de hotéis e de motéis e, até, a indústria dos mármores. Mas um dos seus activos mais visíveis é o autódromo do Estoril (Autodril). Esta infra-estrutura emblemática, pois aí se costumavam realizar provas de Fórmula 1, é inaugurada em 1972 pelo ex-Presidente da República Américo Tomás. Já nos anos noventa, surge no centro de um diferendo com o Estado, que em 1997 acabará por assumir 51 por cento da Autodril (Autódromo), através de um acordo global que visava regularizar um contencioso com o grupo. Numa primeira fase, o Grão-Pará renuncia mesmo a um crédito fiscal. Mas por pouco tempo. Mais tarde recuaria na decisão, envolvendo-se em nova disputa com o Estado, o que levará o Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social a reclamar uma dívida de sete milhões de euros.
Constituído nos anos sessenta, o Grão-Pará, onde o grupo Espírito Santo também tem actualmente uma pequena participação, chega a 1974 entre os dez maiores grupos nacionais. Os seus investimentos estão sobretudo centrados no imobiliário e no turismo. Na praça tinha nome, mas os financeiros da época desconfiavam do seu desenvolvimento rápido, suspeitando das capacidades financeiras das sociedades geridas por Pires da Silva. Ou seja: a marca Grão-Pará engrandecia, mas os fundos escasseavam. Empreendedora e audaciosa, a mãe Pires da Silva mexia-se com agilidade junto dos governantes do antigo regime, o que lhe permitia ganhar margem de manobra em negócios, nomeadamente no turismo. Uma área acarinhada pelo Estado Novo, apostado em apoiar financeiramente a construção de novos hotéis. Em 1974, as sociedades do universo Grão-Pará são ocupadas e intervencionadas, um processo que se prolongará por quatro anos, até 1978. A empresária tem afirmado ter encontrado o seu grupo em ruptura financeira, com um passivo grande e sem contabilidade organizada. Trinta anos depois, o Grão-Pará recompôs-se no imobiliário e no turismo - Matur, Alagoas, Atlantis, Inter Hotel, Sintra/Estoril e terrenos à volta do autódromo. O PÚBLICO procurou em vão obter um comentário do administrador do Grão-Pará sobre o seu envolvimento neste processo, e no âmbito do qual foi detido por suspeitas "de tráfico de influências e corrupção". Fonte próxima de Abel Pinheiro disse no entanto ao PÚBLICO que o empresário "espera que seja feita justiça e que esta seja célere", adiantando ainda que está a "aguardar com tranquilidade" a conclusão das investigações.