Comunidade homossexual de Viseu tem "medo de sair à rua" durante a noite
Depois das notícias de agressões e ameaças a homossexuais, vai decorrer em Viseu um protesto contra a discriminação
"Não sei se terá havido outro exemplo de agressão física a homossexuais, mas a agressão é contínua no terror que se sente de sair à noite em Viseu". A denúncia foi feita ontem por Paulo Vieira, do Não te Prives - Grupo de Defesa dos Direitos Sexuais, durante a apresentação da concentração Stop Homofobia, que vai ser promovida em Viseu, no próximo domingo, por 14 entidades de defesa dos direitos humanos. As associações vão manifestar-se no Rossio, na sequência de alegadas agressões e perseguições a homossexuais que, alegadamente, ocorreram na cidade. "Já há largos meses que se verificam algumas agressões homofóbicas a homossexuais, com a complacência por parte das autoridades. Este acontecimento levou a um movimento de repúdio por parte de algumas associações que resolveram marcar esta concentração porque em pleno século XXI cidadãos são agredidos pelo simples facto de serem identificados como homossexuais", justificou Carlos Vieira, do núcleo de Viseu da Olho Vivo - Associação para a Defesa do Património, Ambiente e Direitos Humanos. Depois dos ataques que ocorreram, acrescenta Paulo Vieira, do Não te Prives, está instalado "um clima de terror que levou a que a população homossexual não se encontre". "Os locais onde se davam as agressões deixaram de ser frequentados por homossexuais. Estive em Viseu com várias pessoas que foram agredidas e saí à noite, e sei o que é terror. As pessoas têm medo de andar em Viseu", refere.
De um dos últimos episódios denunciados, em Fevereiro, por alegadas injúrias e ameaças de morte a homossexuais, a PSP identificou os suspeitos, cinco homens e duas mulheres, com idades compreendidas entre os 20 e os 30 anos.
Lutar contra a homofobia (discriminação pela orientação sexual) da sociedade portuguesa é um dos principais objectivos desta concentração. O preconceito contra os homossexuais é uma das razões, segundo Paulo Vieira, que justifica o número reduzido de queixas apresentadas por agressão. "Quando se diz que há uma, duas, três ou quatro queixas não significa que haja o mesmo número de agressões. Existem dezenas de agressões gratuitas. Porquê só estas queixas? Devido à homofobia que nos impõe uma invisibilidade completa. Fazer queixa é assumir que se é homossexual", sustenta.
PSP e GNR "devem receber formação"
A concentração de protesto visa também exigir "a instauração de um inquérito independente à forma como as forças de segurança do distrito de Viseu lidaram com a actuação de milícias populares anti-homossexuais e a ineficiência perante as queixas de violência física e verbal de que foram vítimas e também exigir do Governo medidas para erradicar a homofobia da sociedade portuguesa e a discriminação".
Além de defender que as autarquias, nomeadamente a de Viseu, devem promover políticas públicas contra qualquer forma de discriminação, Paulo Vieira sustenta que a PSP e a GNR devem receber formação sobre comportamentos homofóbicos, "para poderem perceber que quando um homossexual se queixa numa esquadra a última coisa que lhe apetece ver é um sorrisinho na cara dos agentes".