Radar da Mars Express está a preparar-se para procurar água no planeta vermelho
Começaram a abrir-se três antenas da sonda europeia, que permitirão ver a crosta do planeta até cinco quilómetros
As tecnologias usadas para procurar petróleo e água na Terra vão entrar em acção em Marte, dentro de pouco tempo. A bordo da sonda Mars Express está um tipo de aparelho nunca antes enviado para Marte que vai procurar água e gelo no subsolo, até cinco quilómetros de profundidade. Com um ano de atraso, esta semana foi aberta a primeira das suas três antenas, para depois se iniciar uma nova etapa na exploração de Marte. A Mars Express vai ter uns olhos à Super-Homem, para ver por baixo da superfície.Duas das antenas do aparelho MARSIS (Mars Advanced Radar Subsurface and Ionosphere Sounding) têm 20 metros e viram-se para direcções opostas. A terceira, com sete metros, está virada para o solo. Na quarta-feira, a Agência Espacial Europeia (ESA), dona da Mars Express, enviou instruções para ser aberta uma antena de 20 metros.
Amanhã, deverá ser aberta a outra de 20 metros e, para a semana, a terceira. "Se tudo correr bem no domingo, já se terá uma garantia mínima de que será possível operar o MARSIS", diz o engenheiro aeroespacial Tiago Hormigo (da empresa Deimos Engenharia), interessado nestas questões.
Os receios da ESA começaram no início de 2004, quando o fabricante das antenas, a empresa norte-americana Astro Aerospace, comunicou à equipa do MARSIS os resultados de novos cálculos sobre o processo de abertura. Podia originar um movimento excessivo e danificar a sonda. A abertura, prevista para Abril de 2004, foi adiada.
O Laboratório de Propulsão a Jacto da NASA (que construiu o MARSIS com a Universidade La Sapienza, em Roma) fez nova investigação e concluiu que, de facto, havia o risco de danos. A ESA reavaliou tudo, para concluir que a energia de impacto das antenas, se batessem, seria baixa, refere a BBC on-line. Mas poderia haver danos.
A ESA decidiu agora arriscar, até porque nunca um instrumento esteve em Marte. "É a primeira antena deste género concebida de facto para olhar para as diferentes camadas abaixo da superfície de Marte, principalmente para procurar água", diz um comunicado da ESA.
O entusiasmo à volta do MARSIS é muito grande, pois poderá revelar um dos grandes mistérios de Marte. Para onde foi toda a água, que já abundou? "É um instrumento completamente diferente de tudo o que já se enviou para Marte. Vai permitir ter dados nunca recebidos, até porque se pensa que a maior parte da água de Marte está no subsolo e não na superfície", diz Tiago Hormigo.
Vários dados indicam a existência actual de água em Marte, não só congelada nos pólos, mas também perto do equador em blocos de gelo, tapados por alguns centímetros de poeiras e cinzas que permitiram a sua conservação.
A partir de dia 17, as duas antenas de 20 metros vão emitir ondas de rádio para a superfície. Ao fim de três semanas de testes, vão iniciar o trabalho científico, refere a revista New Scientist.
Os sinais reflectidos pela superfície serão captados pelas três antenas (a que está virada para o planeta serve para melhorar a qualidade do sinal recebido).
Para que os olhos do MARSIS funcionem ao jeito de Super-Homem, o aparelho irá detectar a transição de um material para outro - por exemplo, de rocha para gelo ou de água para gelo. Na interface entre os materiais, uma parte dos sinais são reflectidos. "O que se anda à procura é de água ou gelo, e o MARSIS pode detectar essas transições até cinco quilómetros de profundidade."
Este instrumento funcionará até Agosto, pois até lá a sonda andará mais perto da superfície durante a noite. Fazer o trabalho de noite é importante para evitar interferências da luz solar na atmosfera. Em Agosto passa a ser de dia no ponto mais baixo da trajectória, e o MARSIS não funcionará. Será um trabalho intermitente.A começar no Pólo Norte, espera-se que até Julho observe até ao equador, onde estão os tais blocos de gelo.
Mas em breve o MARSIS terá um concorrente. Também em Agosto, os EUA vão lançar a sonda Mars Reconaissance Orbiter, que chegará ao planeta em Março de 2006. Leva a bordo um instrumento idêntico ao MARSIS, o Shallow Radar, ou Sharad.
Não atingirá camadas tão profundas do subsolo como o aparelho europeu (fica-se por um quilómetro), mas obterá mapas mais nítidos das entranhas marcianas. Espera-se que os dois aparelhos dêem uma nova visão de Marte.