Os americanos partiram de helicóptero e Saigão caiu
Na manhã de 30 de Abril de 1975 os tanques comunistas entraram em Saigão. Horas antes, os americanos fugiam em helicópteros do telhado da sua embaixada
A imagem ficará para sempre como o símbolo da humilhante saída dos norte-americanos do Vietname: milhares de pessoas desesperadas tentando entrar na embaixada dos Estados Unidos em Saigão, filas de gente subindo por uma pequena escada até ao telhado, lutando por um último lugar num helicóptero que os levaria para os navios americanos ao largo da costa vietnamita.
Às primeiras horas da madrugada do dia 30 de Abril de 1975 o último helicóptero levantava do topo da embaixada. Pouco antes, o embaixador dos EUA, Graham Martin, partira, levando a bandeira do seu país dobrada debaixo do braço. Em Washington, o secretário de Estado, Henry Kissinger, aparecia na televisão para anunciar que a América deixara o Vietname.
A 30 de Abril, numa cidade já sem americanos, o tanque 390 do Exército do Vietname do Norte entrava no Palácio de Saigão onde se encontrava o Governo e o Presidente do Vietname do Sul, Duong Van Minh. Pouco depois, Mihn lia na rádio a declaração de rendição. Há exactamente 30 anos, a guerra do Vietname acabava.
As últimas horas antes da queda de Saigão às mãos do Exército comunista vindo do Norte foram de caos e pânico. O jornalista George Esper, que durante dez anos cobrira o conflito para a Associated Press, lembra-se de ter descido a correr as escadas do edifício da AP até à praça central de Saigão para entrevistar soldados e polícias sul-vietnamitas, que disparavam para o ar e gritavam: "Também queremos ir." "Quando me aproximei de um deles, pude ver-lhe os olhos cheios de medo. Agitou os braços gritando: "Fini! Fini!" A guerra acabou, disse em francês. "Perdemos."
O repórter tomava notas rápidas, mas viu que o militar mexia nervosamente na pistola. "Receei que ele disparasse contra mim e que, ao fim de dez anos de cobrir a guerra, morresse nesse último dia, por vingança", conta Esper. Os sul-vietnamitas sentiam-se abandonados pelos americanos que fugiram, quando os inimigos estavam às portas da cidade. Mas o oficial não matou o jornalista. Em vez disso, fez uma saudação ao monumento aos militares sul-vietnamitas, agarrou na pistola, encostou-a à cabeça e disparou.
Durante 30 anos os vietnamitas tinham vivido em guerra. A luta começou ainda nos anos 1940, com os comunistas liderados por Ho Chi Minh, a combater o poder colonial francês. Derrotados em 1954, os franceses deixaram um país dividido entre o Norte comunista e o Sul pró-americano, divididos por uma zona desmilitarizada.
O envolvimento americano começou logo em 1954, com os EUA a fornecerem equipamento militar e treino aos sul-vietnamitas. Mas, desacreditado, o Governo do Sul não aguentou muito, e o Presidente Ngo Dinh Diem acabou por ser derrubado, abrindo caminho a um período de governos breves e instáveis.
A "guerra americana"
Dois ataques das forças do Norte contra navios americanos foram decisivos para a entrada em força dos EUA na guerra. A fase a que os americanos chamam "a guerra do Vietname" e à qual os vietnamitas se referem como "a guerra americana" começa em 1965 e dura até 1973 (os últimos dois anos são sobretudo de conflito entre os dois Vietnames, embora o Sul continue a ser apoiado pelos EUA, que em 73 tinham retirado as suas tropas).
O conflito foi longo e sangrento. Os americanos foram surpreendidos pela capacidade de resistência dos guerrilheiros vietcong, que tiravam partido de um terreno que lhes era favorável e se misturavam facilmente com os civis. As tropas dos EUA lançavam bombardeamentos com napalm (à base de gasolina) e o temível "agente laranja" (um poderoso herbicida) para destruir a floresta que servia de esconderijo aos homens de Ho Chi Minh. No final de 1967 já havia meio milhão de soldados americanos no Vietname.
A ofensiva de Tet, em Janeiro de 1968, com o Exército do Norte a lançar ataques de surpresa, simultâneos, a 36 capitais de província e cinco grandes cidades, entre as quais Saigão, é considerado o ponto de viragem do conflito. Apesar do exército americano ter derrotado os atacantes e obtido uma clara vitória militar, nos EUA, a opinião pública confronta-se com as imagens do horror da guerra e mobiliza-se cada vez mais contra ela.
A partir de 1969, o Presidente Richard Nixon, eleito um ano antes, começa a tentar encontrar uma saída - a ideia é treinar e preparar os militares do Sul para assegurarem eles a luta e permitirem a saída dos americanos, a chamada política de "vietnamização". Mas só em Janeiro de 1973 - e depois de uma semana de bombardeamentos americanos contra Hanói - é que as conversações de paz, que se arrastavam em Paris desde 1969, produziram resultados: foi estabelecido um acordo segundo o qual os EUA sairiam do Vietname e o Sul decidiria o seu destino.
Os dois últimos anos da guerra foram os do enfraquecimento gradual do Sul e o avanço sistemático dos comunistas - até ao inevitável desfecho do dia 29 de Abril, com os helicópteros americanos a evacuarem sete mil pessoas de Saigão. Muitos mais fugiriam depois por mar, tornando-se nos primeiros boat people vietnamitas.
Em 1976 Saigão recebeu o nome de uma nova era: Cidade de Ho Chi Minh.