150 anos do nascimento José Malhoa, um pintor de costumes
Assumidamente anti-moderno, José Malhoa ficou célebre pelos retratos do Portugal
do século XIX
José Malhoa, que nasceu faz hoje 150 anos, é um fenómeno de vendas em Portugal, mas passa praticamente despercebido no mercado internacional. Luísa Soares de Oliveira, crítica de arte, explica que "naturalistas há muitos e Malhoa não acrescenta nada ao que foi o naturalismo internacionalmente." Pedro Lapa, director do Museu do Chiado, tem a mesma opinião: "Pintores como o Malhoa existem por todo o mundo, cada um muito circunscrito ao seu país."José Malhoa, considerado o melhor pintor naturalista português, especializou-se no retrato do país rural dos finais do século XIX. Visando sobretudo o mercado dos emigrantes portugueses no Brasil, o pintor "representou o Portugal que eles queriam ver e recordar - o campo, as minhotas, as moçoilas de braços rechonchudos - e não", segundo Luísa Soares de Oliveira, crítica do PÚBLICO, "o Portugal real". Apesar de salientar a grande qualidade técnica da sua obra, a crítica de arte refere-se a Malhoa como um pintor "algo atrasado e autista, que nunca esteve aberto à modernidade".
Uma das pinturas mais representativas da obra de José Malhoa é Clara. Baseado numa das pupilas de Júlio Diniz, o quadro representa uma minhota a torcer roupa e, segundo Pedro Lapa, faz parte da fase em que José Malhoa "começa a introduzir situações narrativas muito marcadas, que se reportam à maneira de viver de um Portugal rural, profundamente afastado da modernidade e muito romanesco."
O director do Museu do Chiado acredita que o interesse da pintura de Malhoa se deve a "grande parte das suas micro-narrativas configurarem momentos ideológicos proto-fascistas." O pintor é a figura emblemática do "gosto que Salazar cultiva e que António Ferro [director do Secretariado da Propaganda Nacional durante o Estado Novo] consegue impor." Quadros como A Procissão e Basta, meu pai! são retratos de costumes do país tradicional e antimoderno que o fascismo cultivou.
Hoje, os quadros de José Malhoa atingem as melhores cotações no mercado nacional e, segundo o antiquário Frederico Horta e Costa, "podem valer desde 50 mil euros a um milhão de euros". As transacções são feitas sobretudo no circuito privado, mas Luís Castelo Lopes, administrador da leiloeira Correio Velho, refere que O Emigrante e Adelaide chegaram a ser vendidos em leilão por mais de 200 mil euros.