Combate à poluição de Estarreja "é insuficiente", denuncia organização ambientalista
A associação Cegonha pede mais fiscalização, mas a autarquia defende que a situação tem melhorado
O acompanhamento feito à poluição atmosférica de Estarreja "é muito deficitário", deixando por monitorizar alguns "poluentes críticos como o cloro", e o complexo químico local peca por "falta de transparência" na divulgação de dados relativos às substâncias expelidas pelas sua chaminés. O município mantém-se assim "um problema ambiental para a região e para a ria de Aveiro", afirma Miguel Oliveira e Silva, da associação ambientalista Cegonha. O responsável admite que há "uma maior sensibilização das pessoas" em termos ambientais e elogia alguns avanços na matéria, como o projecto Erase. "Mas ainda há muito caminho a trilhar", alerta, apelando a um investimento em matéria de "fiscalização"."Não sabemos o que inalamos em Estarreja. Temos duas estações de medição da qualidade do ar, mas o acompanhamento é muito deficitário, há poluentes críticos como o cloro, metais pesados, compostos orgânicos voláteis que não são monitorizados", acusa Miguel Oliveira e Silva. "Não se pode ser excessivamente optimista com o ambiente em Estarreja, há que ser realista", defende, reconhecendo a bondade de iniciativas como "o aterro Erase", que resulta "numa solução menos má do que a deposição de resíduos a céu aberto".
O ambientalista considera que "há uma maior sensibilização das pessoas para estes problemas", mas lamenta, ao mesmo tempo, que "o ambiente não seja transversal". "Construíram uma rotunda junto ao hospital e derrubaram, sem qualquer problema, cinco ou seis árvores que sempre lá existiram. Na zona do mercado aconteceu a mesma coisa, desta vez para a obra do parque do Antuã. É inacreditável", critica o responsável da Cegonha, sustentando que as medidas que têm sido tomadas em termos de valorização ambiental são elogiáveis mas "insuficientes".
Segundo a avaliação de Miguel Oliveira e Silva, "o complexo químico é, sem dúvida, a principal nódoa" do município, em matéria ambiental. "É preciso conhecer a qualidade do ar, saber o que sai de cada chaminé. Mas revela-se uma verdadeira via sacra, para a Cegonha, pedir os dados de autocontrolo das indústrias. As solicitações são sistemáticas e a resposta é de que os dados não são públicos", justifica Oliveira e Silva. "Quem não deve não teme. Não me importo nada que os dados sejam privados, desde que a poluição também seja. Mas quando ela é generosamente distribuída pela vizinhança...", continua.
"Em Agosto do ano passado decorreu a consulta pública ao estudo de impacto ambiental (EIA) da Quimigal, um estudo já feito a posteriori de sete alterações previamente introduzidas pela empresa. Passou quase um ano e a avaliação ainda não foi divulgada", recorda o ambientalista, lamentando "a falta de transparência nestas questões da inspecção ambiental". "As indústrias do complexo químico representam um risco elevado para a saúde pública" e "Estarreja continua a ser um problema ambiental para a região e para a ria de Aveiro", reforça Oliveira e Silva.
Câmara recusa acusaçõesJosé Eduardo Matos, presidente da Câmara de Estarreja, faz uma leitura diferente. "O complexo químico não é um problema ambiental, embora comporte alguns riscos", considera o autarca social-democrata, sublinhando que "a realidade ambiental de Estarreja tem sido alterada". Para Eduardo Matos, o assinalar de uma semana dedicada ao tema (a IV Semana do Ambiente de Estarreja decorre até dia 1 de Maio) "demonstra a vontade que há neste domínio". "Temos que assumir a questão do ambiente de frente, olhos nos olhos", defende o edil.
Também para José Eduardo Matos, o projecto Erase significa "um passo em frente no combate à poluição" do município. "É um projecto inovador em Portugal e representa ainda um importante salto em termos da nossa auto-estima, para que Estarreja possa ser falada pela positiva". Um esforço de recuperação do passado que deve ter continuidade no presente, no sentido "da responsabilização, que tem a ver com as empresas". Hoje podemos começar a falar de desenvolvimento sustentado", diz José Eduardo Matos, lembrando investimentos realizados no saneamento básico e na valorização do património ambiental concelhio.
"Queremos virar o concelho para a ria, uma vez que tem uma ampla frente ribeirinha", especifica o autarca, frisando a importância do percurso de interpretação da natureza lançado pelo projecto Bioria, ou a criação dos parques municipais do Mato e do Antuã. "Mas permanecem alguns desafios", admite Eduardo Matos, referindo a necessidade de "um diagnóstico de situações que estejam por resolver, ao nível do desempenho das empresas do complexo químico".