Paços de Ferreira prepara regresso à elite do futebol
Se vencerem hoje em Matosinhos e o Feirense não ganhar na Maia, os pacenses garantem matematicamente a subida à SuperLiga
Depois de uma época no escalão secundário, o Paços de Ferreira está a um passo de garantir o regresso à elite do futebol nacional. A festa da promoção à SuperLiga poderá mesmo acontecer já hoje, a cinco jornadas do final. Basta que os homens orientados por José Mota vençam no terreno do Leixões e o Feirense não ganhe na Maia. Mesmo que isso não aconteça, a equipa pacense só precisa de angariar cinco dos 18 pontos que estão em disputa. Com este objectivo praticamente assegurado, os pacenses só pensam em atacar o título e em definir já os contornos da temporada que se avizinha. A ideia é regressar aos êxitos do passado recente, como o sexto lugar de 2002/2003 ou a presença numa meia-final da Taça de Portugal."Neste momento, a nossa grande preocupação é o título nacional. A promoção está praticamente garantida e já se pensa no futuro, na SuperLiga", confessa Adalberto, o veterano capitão da equipa, com 36 anos de idade, 23 dos quais ao serviço de um clube que entrou em crise com a saída do treinador José Mota, no final da temporada 2002/2003, época em que o clube desceu de divisão. Mas essa pequena travessia no deserto está quase terminada. "A equipa mudou muito e regressou a antiga força de vontade", reforça Adalberto.
Os números falam por si. O Paços de Ferreira entra nesta 29.ª jornada da II Liga em primeiro lugar, com cinco pontos de vantagem sobre o Estrela da Amadora. Tem 56 golos marcados, uma média de dois por partida, e é o único clube que ainda não perdeu em casa, onde cedeu apenas dois empates. Conta ainda com o melhor marcador da prova, Rincon (18 golos). Resultados que têm as impressões digitais de José Mota. O técnico resume a sua concepção sobre futebol a uma evidência: "O fundamental é sempre marcar mais golos que o adversário". O mesmo é dizer que as suas equipas jogam ao ataque.
Reconstrução começouna época passada
Mas os resultados não surgiram por acaso. A reconstrução da equipa começou a ser esboçada ainda o Paços vivia o calvário da SuperLiga da época passada. José Mota, que assinara pelo Santa Clara (depois de Pimenta Machado alegadamente não ter cumprido o acordo verbal de o levar para Guimarães), foi chamado novamente pelo presidente do Paços de Ferreira, Hernâni Silva, para substituir o seu antigo preparador físico José Gomes (hoje treinador do Leixões). Estavam decorridas apenas nove jornadas, mas a permanência era já uma tarefa impossível e a descida foi inevitável. "Os jogadores estavam desmoralizados pelas oito derrotas em nove jogos. Não havia muito a fazer, até porque tinha de defrontar os chamados "grandes", em casa e fora. Tentou-se o possível, mas começou-se logo a preparar uma equipa capaz de regressar logo no ano seguinte à SuperLiga. Uma espécie de regresso às origens", explica José Mota.
Saíram 16 jogadores, entraram 14
Com a despromoção, consumou-se a revolução: 16 jogadores abandonaram o clube e foram contratados 14. O clube voltou a procurar reforços nas divisões inferiores. O orçamento foi reduzido para 1,4 milhões de euros. "E este valor é para todas as actividades do clube e não apenas para o futebol profissional. Até o custo do adubo está aqui contabilizado", faz questão de esclarecer o presidente, Hernâni Silva, que, ao que o PÚBLICO apurou junto dos atletas, cumpre escrupulosamente todos os seus compromissos.
Ao contrário do que seria de esperar, José Mota não se preocupou muito com a escassez de verbas. É, de resto, daqueles treinadores que gostam de descobrir valores desconhecidos. E tem a experiência suficiente para saber que os jogadores habituados a jogar na SuperLiga não se adaptam facilmente às exigências do futebol do escalão secundário. A Liga de Honra exige mais luta, mais sacrifício, mais confronto físico. "Não é por acaso que uma equipa, quando desce, raramente sobe logo na época seguinte. Procurei criar um misto de jogadores experientes e outros que vieram de escalões inferiores; e promovi alguns juniores", esclarece. Seguiu-se todo um trabalho de mentalização, porque, como diz Mota, é muito diferente jogar para ficar no meio da tabela ou ter a pressão de ganhar todos os jogos. "Este é um dos motivos que fazem com que muitos jogadores de qualidade não se imponham quando a obrigação de ganhar é constante". O resultado está à vista: a equipa tem a promoção praticamente assegurada e o título está a um passo.