Jovens empresários culturais na incubadora

O Centro de Apoio à Criação de Empresas, que ocupa as instalações da velha central eléctrica
do Freixo, no Porto, tem já quatro jovens firmas em funcionamento no ninho. São
empresários da área cultural, que têm a expectativa de, ao fim de três anos, poderem impor-se autonomamente no mercado. Ou não fossem eles representantes daquele a que já chamam o "sector quaternário" da actividade produtiva. Por Nuno Corvacho

São em número de quatro as empresas de vocação cultural que já se instalaram na velha central eléctrica do Freixo para darem arranque à sua actividade. E três estão na calha para lhes seguirem as pisadas entre este mês e o próximo. Até ao final do ano, se tudo correr bem, deverão estar ocupados os 17 espaços destinados a jovens empresários neste Centro de Apoio à Criação de Empresas (CACE) dinamizado pelo Instituto de Emprego e Formação Profissional, o quarto a ser criado na Região Norte mas o primeiro do país com vocação exclusiva na área da cultura. Em termos de negócio, a opção por dirigir o CACE do Porto para este sector do mercado e de criar emprego qualificado nesta área é plenamente justificada. É esta, pelo menos, a opinião do director do centro, o psicólogo José Manuel Castro, que lembra os "sete a oito mil jovens" que todos os anos saem das escolas de formação artística do Grande Porto. "Já se fala neste como o sector quaternário da actividade produtiva, aquele que tem a ver com o consumo de bens culturais. É um mercado emergente e hoje em dia um importante indicador de desenvolvimento humano", justifica o responsável.
O CACE começou a trabalhar em Setembro de 2003, ocupando as instalações da unidade industrial desactivada, e, em Março do ano seguinte, já tinha recebido 70 intenções de candidatura ao lançamento de empresas de âmbito cultural. É evidente que muitas delas acabariam por ser rejeitadas porque os critérios de apreciação são relativamente apertados; uma análise mais atenta permitiu perceber que não tinham condições de subsistência económica e em pouco tempo acabariam por ir à falência. Além da vontade e da motivação, requisitos psicológicos sem os quais dificilmente se consegue liderar o que quer que seja, são exigidos perfil e capacidade empresarial, bem como a viabilidade económica dos projectos. Tudo isto tem de estar devidamente sustentado, numa previsão que o candidato é convidado a expor logo à partida. Como explica José Manuel Castro, cada um só pode sobreviver depois de passar por um crivo pormenorizado em que é obrigado a referir nomeadamente o tipo de negócio a empreender, quantos postos de trabalho serão criados, qual o seu nicho de mercado, quantos clientes pretende atingir e quais os prazos de pagamento admitidos. Só com um relatório deste género, e obviamente a adaptação da empresa aos metros quadrados disponíveis, é que a comissão de acompanhamento do CACE (que reúne, além de entes públicos, entidades do meio empresarial, sindical e universitário) pode aprovar a candidatura.

Do CACE tutor ao CACE "auditor"
As empresas recém-instaladas (em recintos que no tempo da central eléctrica funcionavam como escritórios ou refeitórios) começam por evoluir num contexto protegido, como é típico dos ninhos, em que os choques provocados pela entrada no mercado acabam por ser razoavelmente amortecidos. Isto porque contam, pelo menos numa fase inicial, com o apoio técnico e de aconselhamento dos profissionais do CACE; por outro lado, o facto de os estabelecimentos serem vizinhos uns dos outros e estarem a funcionar num local que foi pensado especificamente para eles pode gerar sinergias e interdependência, o que é favorável à criação de sentimentos de autoconfiança e à superação do medo do desconhecido. Com o tempo, como seria de esperar, as facilidades vão diminuindo: se no início a instituição dá um empurrãozinho aos jovens empresários, funcionando quase como tutora, com a entrada do negócio em velocidade de cruzeiro o CACE torna-se, nas palavras do seu responsável máximo, cada vez mais um "auditor": aquele que zela para que tudo corra sobre rodas e as contas estejam devidamente justificadas. "A nossa vigilância não pode deixar de ser muito rigorosa. Senão também estaríamos a fazer concorrência desleal com o mercado, e não é isso que nós queremos", justificou José Manuel Castro.
Os candidatos, dependendo da sua situação prévia, podem contar de início com os incentivos e os programas de apoio financeiro geridos pelos centros de emprego. Além das despesas de funcionamento do negócio, os utentes pagam uma espécie de "renda" pelo espaço ocupado a título de comodato, a qual é estabelecida de forma faseada e progressiva. "Todos esses valores pagos são devolvidos no momento em que a empresa sai. Esse fundo funciona como uma espécie de capital inicial para a futura instalação da empresa por sua conta", explica o director do CACE. Com efeito, três anos é o período contratualmente fixado durante o qual a empresa permanece no ninho; findo esse tempo de incubação, o negócio tem de estar capaz de caminhar cá fora sem a "ajuda" do CACE, ou seja, com sede própria. "É isso o que mais nos preocupa", admitiu o responsável, para quem o momento mais crítico é ter de os "empurrar daqui para fora", coisa que tem de ser pensada e assegurada com a devida antecedência.
DADOS

f A antiga garagem da central eléctrica, com 800 metros quadrados, poderá ser aproveitada para uma segunda fase da instalação do CACE; falta ainda saber se o espaço será usado em globo por um só operador (num qualquer megaprojecto) ou se será dividido em várias fracções, tudo dependendo do concurso de ideias a efectuar.f A nave principal do CACE já tem sido palco de espectáculos, como o projecto teatral "Ilhas" e o Portugal Fashion.
f As empresas já aprovadas pelo CACE garantem um total de 27 postos de trabalho, 11 dos quais apoiados pelas chamadas ILE (Iniciativas Locais de Emprego).
f Além das quatro empresas já instaladas, está iminente a colocação de mais três: Black Spray (design e multimédia), Inside Out (sala de ensaios para jovens bandas e estúdio de gravação) e uma ainda sem designação, vocacionada para a produção teatral.

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