Da Primeira Liberdade inaugura hoje a Casa da Música

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Orquestra Nacional do Porto e 319 crianças sobem hoje ao palco Manuel Roberto/PÚBLICO

O primeiro grande teste público, aliás: os concertos de hoje e de amanhã são excepcionais por serem os primeiros, mas são sobretudo excepcionais por colocarem em palco mais de 400 pessoas: 125 alunos do ensino regular, 194 vozes que a Casa da Música recrutou nas escolas vocacionais para compor um coro infantil e a formação completa da Orquestra Nacional do Porto (ONP).

Posto em marcha em 2002, o projecto Sons Livres é uma parceria entre o Serviço Educativo da Casa da Música e o British Council, que convidou Richard Frostick, consultor de educação musical da BBC e director do Islington Music Centre, de Londres, a dar o pontapé de saída para uma acção de longo prazo destinada a encorajar a improvisação musical na sala de aula do ensino regular. "Tinha feito um trabalho semelhante na Croácia, partilhando com professores e alunos técnicas para encorajar os miúdos a improvisar e a compor autonomamente", explicou na altura ao PÚBLICO. Ao longo de cinco seminários com os 125 alunos de escolas dos diversos ciclos do ensino básico e secundário - a maioria sem qualquer formação musical extracurricular - foi também isso que fez no Porto. "Aqui toda a gente pode participar. Não é preciso ter tido aulas de violino, não é preciso que o pai tenha dinheiro para comprar um piano", garantia Richard Frostick.

Desafiados a lidar com os instrumentos, a fazer "sons anormais", a compor "o ritmo mais difícil do mundo e, sobretudo, a compor as suas próprias peças", os 125 alunos participantes sobem hoje ao palco. Cabe-lhes preencher os espaços em branco da partitura interactiva de Fernando C. Lapa, que encaixa no tecido orquestral, a cargo da ONP, os segmentos de improvisação compostos e executados por cada um dos cinco grupos etários envolvidos.

A partir de Sophia

Fernando C. Lapa construiu a obra Da Primeira Liberdade a partir de textos de Sophia de Mello Breyner. "A releitura de alguns poemas da Sophia sugeriu-me uma maneira de marcar os andamentos. Escolhi seis pequenos poemas, seis diferentes maneiras de ver a liberdade, para compor a introdução, mais longa, e os cinco andamentos seguintes, de cinco a oito minutos", explicou ao PÚBLICO o compositor. Cada andamento é introduzido por um grupo de orquestra e rematado pelo coro infantil de 194 vozes, ao qual compete cantar os poemas escolhidos. A meio, intervêm os grupos de improvisação formados pela Casa da Música e a ONP.

"A ponte entre os segmentos dos alunos e a minha partitura faz-se muito bem. É óbvio que eu criei um tecido orquestral propício, porque sabia que eles iam usar sobretudo instrumentos de percussão e preparei a partitura. Isto mostra que é possível fazer música de conjunto a um nível de exigência mais elevado, se forem criadas as condições", sublinha Fernando C. Lapa.

Não houve problemas de desenraizamento porque a partitura foi trabalhada nos seminários e porque cada grupo de improvisação teve a colaboração de um elemento da ONP, que pôde mostrar aos alunos como é que os músicos trabalham. Mais do que isso, o projecto Sons Livres foi uma troca nos dois sentidos: "No grupo dos mais crescidos, alguns alunos resolveram trazer guitarras. De repente o segmento deles parece uma balada rock lá no meio, mas convive perfeitamente com o resto da partitura - a minha peça não tem nada a ver com essa escrita musical, mas percebe-se bem que isto é a música deles também."

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