Novo ecossistema esconde-se nas fontes hidrotermais da Cidade Perdida
Camarões e caranguejos do tamanho de uma unha e vários microrganismos escondem-se ali, em pleno oceano Atlântico
A Cidade Perdida, o maior complexo de fontes hidrotermais descoberto até hoje, esconde um festival de vida que se desconhecia. A equipa da universidade de Washington que descobriu em 2000 estas formações em pleno oceano Atlântico vasculhou três anos depois as areias e formações rochosas em torno das chaminés, de onde saem minerais e gases do interior da Terra, e descobriu um novo e espantoso ecossistema, formado por pequenos camarões e caranguejos que não têm mais que o tamanho de uma unha. Os resultados desta descoberta são relatados na última edição da revista Science.Chamam-lhe Cidade Perdida e foi descoberta acidentalmente em 2000. Trata-se de um complexo de fontes hidrotermais gigante, no Atlântico, a leste das Bermudas e na direcção da costa da Florida (EUA). Estende-se por 15 quilómetros e está assente numa formação rochosa com 1,5 milhões de anos.
A chaminé mais alta desta formação, a que a equipa chamou Posídon, em nome do deus grego dos mares, mede nada mais nada menos do que 60 metros e é a maior vista até hoje. Em 2000, a equipa liderada por Deborah Kelley, que descobriu esta Cidade Perdida, ficou fascinada com a grandiosidade do complexo.
Mas havia muito mais para contar sobre estas fontes hidrotermais. Ao voltar lá, em 2003, a equipa vasculhou o solo e as superfícies das chaminés e descobriu um ecossistema muito mais rico do que o que inicialmente tinha encontrado em 2000. "Trabalho em fontes hidrotermais há 20 anos e pensamos que conhecemos bem como estes ecossistemas funcionam. Mas, de repente, apercebemo-nos que o Oceano é enorme e que há ainda muita coisa para descobrir", confessou Deborah Kelley à agência AP.
Já se sabia que a Cidade Perdida era rica em vermes-de-tubo, organismos tubulares, como o nome indica, que vivem do ambiente invulgar criado em trono das fontes hidrotermais, e que podem medir até dois metros e meio. Mas agora a equipa de Deborah Kelley afirma que há uma imensidão de pequenos camarões e caranguejos, bem como de micróbios, cujo metabolismo assenta na exploração do metano e do hidrogénio que sai destas fontes hidrotermais.
De resto, o que distingue a Cidade Perdida de outras fontes hidrotermais é que o ambiente é muito alcalino e não ácido, e as temperaturas são muito mais baixas, sem nunca superarem os 76 graus Celsius.
As fontes hidrotermais, descobertas pela primeira vez em 1979, formam-se quando canais subterrâneos de água abrem caminho no leito dos oceanos. A água irrompe a uma temperatura muito elevada, que pode chegar aos 370 graus e, ao entrar em contacto com a água fria do mar, os minerais que transporta das profundezas da Terra cristalizam, formando as chaminés e o manto negro que se propaga na água em muitos casos. A Cidade Perdida, pelo contrário, tem cores claras.