Encontramos, portanto, Brosnan na pele de um ladrão que, depois de uma última golpada, se retira para um "resort" turístico algures nas Caraíbas para viver uma reforma dourada, juntamente com a noiva e comparsa Salma Hayek. Mas o passado ataca: um agente do FBI (Woody Harrelson), pouco convicto da reforma de Brosnan, aparece para o ter debaixo de olho, ao mesmo tempo que atraca um paquete, a bordo do qual decorre uma exposição de jóias entre as quais uma que é a peça que falta à "colecção" do ladrão de luxo.
Os dados lançam-se assim: conseguirá Brosnan levar a sério a inactividade, como é seu desejo e da noiva, ou cederá à tentação de um último trabalho? E quais são as verdadeiras intenções da personagem de Harrelson?
Teoricamente, "Um Crime no Paraíso" é uma revisitação do "filme de golpadas", com todas as voltas e reviravoltas habituais no género. Mas não há muita imaginação nem muito talento, e parece haver, pelo contrário, um "défice de crença": assim como Brosnan faz o seu número em piloto automático, nenhum dos outros intervenientes parece concentrado no filme. Vendo as paisagens, as esplanadas na praia, o sol e o mar, até se percebe que nas circunstâncias tal falta de concentração é "humana". Pena que o filme apareça como mera justificação de umas férias nas Caraíbas, e se assemelhe tanto a um anúncio publicitário. Ao lugar, claro, mas também aos actores: se Brosnan deixa um cartão de visita especializado para futuros castings, Salma Hayek passa o tempo a mostrar a colecção de bikinis, a fazer beicinho e vozinha melosa, numa espécie de anúncio de si própria.
Recuperável como paródia? Paródia era "O Caso Thomas Crown". O filme de Brett Ratner não ultrapassa uma dimensão de "pastiche" parasitário, vistoso como um daqueles cocktails coloridos e estivais que se bebem na praia, mas no fundo perfeitamente insípido. Não é que seja desagradável, é só duma enorme irrelevância.