Eleitorado viseense ditou o fim do "cavaquistão"
O PS conseguiu o feito inédito de conquistar mais votos do que o PSD
Acabou o "cavaquistão". E o "laranjistão", pedido por Pedro Santana Lopes, afinal não chegou a ser. O eleitorado do distrito de Viseu seguiu a onda "rosa" que varreu o país e deu uma vitória histórica ao PS. Pela primeira vez em 30 anos de poder democrático, os socialistas conseguiram ter mais votos do que os sociais-democratas, em Viseu. Uma vitória separada do PSD apenas por duas décimas, correspondentes a 455 votos. Com 40, 4 por cento dos votos, o PS venceu em onze concelhos, ainda assim menos dois do que o PSD, e elegeu quatro deputados (José Junqueiro, Manuel Maria Carrilho, Cláudia Vieira e Miguel Ginestal). O PSD, com 40, 19 por cento, perdeu um dos cinco deputados eleitos em 2002 (elegeu José Luís Arnaut, Almeida Henriques, Melchior Moreira e Carlos Miranda). O nono mandato mantém-se no CDS/PP, que, com 8, 6 por cento dos votos (menos dois pontos percentuais do que em 2002), elegeu Anacoreta Correia.
O líder distrital do PSD Viseu, Carlos Marta, desdramatizou os resultados, vincando que esta mudança de cor política reflecte apenas o panorama nacional. "O "cavaquistão" é uma história mal contada, porque, se o PSD tinha a maioria, era normal que se reforçasse mais. A partir do momento em que o PS tem maioria absoluta é normal que ganhe em quase todos os distritos, aliás como aconteceu com o dr. Cavaco Silva", sublinhou ao PÚBLICO, acrescentando que Cavaco também venceu no Alentejo, onde o eleitorado é tradicionalmente comunista. O social-democrata vincou ainda que, apesar do desaire nacional, no distrito, o PSD teve uma votação "mais de 20 pontos acima da média nacional". Sobre o facto de esta ser a primeira vitória socialista no distrito, Carlos Marta lembrou que "também é a primeira maioria absoluta do PS", pelo que é "absolutamente normal".
Já Fernando Ruas, o presidente da Câmara de Viseu, questionado pelos jornalistas no final da reunião do executivo municipal, considerou que "não vale a pena tapar o sol com a peneira". "O PS ganhou. O PSD perdeu! Não vale a pena estar a arranjar nenhuma desculpa, foi assim e de forma categórica. Uma derrota, após trinta anos de vitórias, tem significado e quem tem responsabilidades directas nestas questões tem de analisar a situação", afirmou. Sublinhando que "não está a pedir a cabeça de ninguém", o autarca social-democrata considerou, no entanto, que também a nível distrital tem de ser feita uma "análise" cuidada dos resultados, uma vez que, apesar da derrota global, o PSD ganhou em concelhos como Vila Nova de Paiva, Mortágua ou Santa Comba Dão, onde as autarquias são socialistas, e perdeu em municípios "laranja" como Mangualde ou S. Pedro do Sul. "Tenho alguma explicação para isto, o voto a penalizar o Governo foi o voto esclarecido. As pessoas foram votar em relação pelo sentimento em relação à sua comunidade", vincou.
Ao PÚBLICO, José Junqueiro, cabeça de lista do PS por Viseu, sublinhou que o fim do "cavaquistão" significa "que tudo é possível, quando se quer muito". "Viseu é um distrito socialista! Esta é uma vitória histórica, conduzida por uma equipa de muita qualidade, que entendemos com muita humildade e sentido de responsabilidade", resumiu, acrescentando que o PS distrital alcançou os dois objectivos a que se propôs - "mais votos e mais deputados". Segundo Junqueiro, para isso contribuíram "a lista de grande qualidade e altamente qualificada do PS", mas também a "campanha agressiva e arrogante" do PSD, que "utilizou os meios do Estado para tentar comprar o eleitorado".