Na década de cinquenta Christo fez parte do colectivo KWY, fundado, em Paris, por Lourdes Castro e René Bertholo. Hoje é conhecido por embrulhar monumentos, como o Reichstag, em Berlim

A biografia de Jachareff Christo, artista natural de Gabrova, Bulgária, onde nasceu em 1935, cruza-se com a dos portugueses René Bertholo, Lourdes Castro, José Escada, Costa Pinheiro, João Vieira e Gonçalo Duarte na aventura parisiense do colectivo KWY, que editou uma revista homónima entre 1958 e 1964. Nessa época, o criador de "The Gates" tinha frequentado as Academias de Belas-Artes de Sófia e de Viena, para onde se escapara em 1957, e, já em França, aderido ao movimento dos "Nouveaux Realistes". Por essa altura também iniciara o processo de embrulhar, com tela ou plástico, objectos familiares.Foi na capital francesa que, em 1958, Christo encontrou a sua actual mulher, Jeanne-Claude Denat de Guillebon, com quem cria objectos artísticos há mais de quatro décadas. Em meados dos anos sessenta, ambos, juntamente com o seu filho Cyril, mudaram-se para Nova Iorque, onde ainda hoje residem. O processo criativo do casal tem sofrido poucas variantes desde essa época, tendo apenas crescido na escala das realizações, que passaram a incluir o embrulho de monumentos, o cercar de ilhas, o vedar de paisagens, o espalhar de guarda-sóis na natureza.
Christo e Jeanne-Claude consideram-se "artistas ambientais" porque, notam, as suas obras são criadas "em cidades - em ambientes urbanos - e também em ambientes rurais mas nunca em lugares desertos, e sempre em sítios já preparados e usados por pessoas, geridos por humanos para humanos". Por esta razão recusam a designação de "land artists" e também afastam a hipótese de serem incluídos no âmbito da arte conceptual, sublinhando o facto de quererem construir os seus projectos e não deixá-los num papel, enquanto ideia.
Para Christo, o acto de embrulhar é temporário e tem como objectivo revelar as formas essenciais do objecto - monumentos, museus, pontes, carros, etc. - que é tapado por tecido ou plástico. Outra variante do seu trabalho é composta pelo bloqueio de um determinado espaço com o recurso a bidões de gasolina - a 27 de Junho de 1962, uma destas "cortinas" bloqueou, durante oito horas, a Rue Visconti, em Paris, impedindo assim a normal circulação rodoviária.
Muitos dos projectos do casal, sobretudo os realizados em espaços públicos, têm igualmente uma componente espectacular que é dada não só pela escala, mas também pelas cores, pela duração do processo até à sua concretização e ainda pela necessária mobilização de trabalhadores para os erguer - Christo e Jeanne-Claude fazem questão de notar que os seus colaboradores são sempre pagos. Uma excepção: a recusa de onze estudantes de Arquitectura em receberem o dinheiro que lhes cabia pela participação na construção da "Wrapped Coast, One Million Square Feet", Little Bay, Austrália, 1968-1969 - a obra foi instalada com a ajuda de 125 operários.
Entre as intervenções mais célebres dos artistas conta-se o embrulho do Reichstag, em Berlim, um trabalho pensado no início da década de setenta, mas cuja concretização só aconteceu em 1995 e com a ajuda de 90 alpinistas e 120 profissionais das áreas técnicas da museologia. O monumento permaneceu tapado durante 14 dias e todos os materiais foram depois reciclados.