Eterno herdeiro do trono de Isabel

Se um dia chegar a rei, Carlos poderá tornar-se o mais velho monarca inglês a ser coroado. O príncipe tem actualmente 56 anos, mas a rainha Isabel II, de 78, continua a revelar uma saúde invejável, pelo que, pelo menos nos próximos tempos, prevê-se que Carlos continue a fazer o que fez toda a vida: preparar-se para o trono. Quando, a 14 de Novembro de 1948, nasceu no palácio de Buckingham Charles Philip Arthur George, foram disparados 41 tiros de canhão e por todo o país houve manifestações de entusiasmo. Mas, passada a euforia inicial, Carlos teve uma infância austera, criado primeiro por amas e mais tarde numa escola privada, e, refere a AFP, "sem grande intimidade com um pai severo e uma mãe distante, ambos muito ocupados com as suas funções e frequentemente em viagem".
Tímido, discreto, contemplativo, o príncipe nunca se adaptou bem à disciplina quase militar do rigoroso colégio na Escócia, onde o seu pai tinha também sido educado. Carlos nunca foi um estudante brilhante, mas isso não impediu a sua admissão na Universidade de Cambridge, onde estudou História, Arqueologia e Antropologia. Seguiu-se o serviço militar, na Força Aérea e na Marinha.
Depois começou a longa espera. Em 1976, criou o Prince"s Trust, uma fundação que financia projectos de apoio a jovens desfavorecidos e, na década seguinte, pronunciou-se sobre assuntos variados, com comentários frequentemente ridicularizados na imprensa e opinião pública. Entre os seus assuntos preferidos, conta-se a agricultura biológica e as medicinas tradicionais, das quais é um defensor. Mas foram também muito faladas as opiniões conservadoras que expressou sobre arquitectura moderna.
O longo romance com Camilla começou no início dos anos 70, quando os dois se conheceram num jogo de pólo, um desporto que é, a par da caça, uma das paixões comuns. Mas a indecisão de Carlos, que entretanto entrou para a Marinha, levou Camilla a avançar para outro casamento, com o seu admirador de há longa data, Andrew Parker-Bowles.
Durante os anos seguintes, Carlos e Camilla não perderam o contacto. E terá sido ela quem encorajou o casamento do príncipe com a tímida Diana. A cerimónia - "de conto de fadas", como a imprensa lhe chamou - realizou-se em 1981. Mas o casamento de Carlos e Diana nunca foi feliz, e os ciúmes que esta tinha de Camilla não eram segredo.
Foi a própria Diana quem um dia contou na televisão um encontro com Camilla numa festa em 1989: "Ela disse-me: "Tens todos os homens do mundo apaixonados por ti e tens dois filhos lindos. O que é que queres mais?" E eu respondi-lhe: "Quero o meu marido.""
Ninguém duvida que a verdadeira paixão de Carlos foi sempre Camilla. Num documentário televisivo de 1994, o príncipe declarou: "A senhora Parker-Bowles é uma grande amiga minha... amiga de longa data. E vai continuar a ser minha amiga por muito tempo."
O casamento com Diana acabou em 1992, e o divórcio concretizou-se em 1996, um ano depois de Camilla se ter também divorciado de Andrew Parker-Bowles. No início de 1997, ela fez as primeiras tentativas para aparecer em público e Carlos ofereceu-lhe uma festa pelo seu 50º aniversário. Mas quando se começava a especular sobre a possibilidade de o romance de ambos ser finalmente assumido, Diana morreu num acidente de carro, em Agosto. Camilla desapareceu novamente dos olhos dos britânicos, então destroçados com a morte da "princesa do povo".
Depois do período negro que se seguiu ao acidente de Diana, nos últimos anos Carlos conseguiu melhorar a sua imagem, aparecendo frequentemente em fotografias com os filhos, e revelando uma intimidade que nunca teve com o seu pai. Nessa frieza da sua infância pode estar, dizem os amigos próximos, a chave para compreender a paixão por Camilla, uma mulher terra a terra e confiante, que lhe dá segurança e compreensão. Alexandra Prado Coelho

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