CARLOS E CAMILLA VÃO FINALMENTE CASAR MAS ELA NUNCA SERÁ RAINHA DE INGLATERRA
Esperaram todo o tempo do mundo, acomodaram o seu amor às regras monárquicas e da Igreja Anglicana e optaram por não afrontar o fantasma de Diana. Carlos de Inglaterra e Camilla Parker-Bowles trocam alianças no próximo dia 8 de Abril, mas ela nunca será princesa de Gales e jamais será rainha. Será apenas princesa consorte e mulher de Carlos. Para os dois já não é pouco. Mas, para muitos britânicos, já é de mais e por isso consideram que a coroa britânica deveria passar directamente de Isabel II para o seu neto William. Por Joana Amado
Conheceram-se em 1970 num jogo de pólo mas só agora é que vão finalmente casar-se. Ele tem 56 anos, e é o provável próximo rei de Inglaterra. Ela tem 57 anos, e nunca será rainha. O príncipe Carlos de Inglaterra e Camilla Parker-Bowles anunciaram ontem que vão oficializar a sua relação que dura há 35 anos. As cerimónias - privadas e civis - realizam-se no próximo dia 8 de Abril. A família e classe política britânica mostraram-se "encantadas" com a notícia. Não houve ondas de choque ou pavor, mas também ninguém se mostrou excessivamente entusiasmado com a novidade. Por várias razões. Primeiro porque a relação de Carlos e Camilla dura há tantos anos que está longe de ser uma novidade para os britânicos; segundo, porque Camilla não tem a "aura" imbatível da sua antecessora, Diana; e terceiro, porque a Casa Real britânica apressou-se a noticiar, ontem de manhã, que Camilla não terá o título de Princesa de Gales (mas sim duquesa da Cornualha), nem será rainha (mas sim princesa consorte) quando (e se) Carlos subir ao trono de Inglaterra.
A realidade da relação entre Carlos e Camilla explodiu nos tablóides britânicos em 1992. Ele estava casado com Diana, ela estava casada com Andrew Parker-Bowles. Os dois eram amantes, como demonstravam as gravações de conversas telefónicas que ficaram conhecidas como "Camillagate". Nelas Carlos dizia "amo-te" e muito mais a Camilla.
Considerada como a principal responsável do divórcio do "casamento do século", Diana chamava-lhe "rotweiler" e não foram poucas as ocasiões em que Camilla foi insultada na rua.
Depois da morte dramática de Diana, a eterna amante de Carlos foi obrigada a viver na sombra até Junho de 2004, data em que foi oficialmente integrada na família real britânica, com a aparição do seu nome na contabilidade pública do condado da Cornualha, cujos rendimentos pertencem ao príncipe enquanto herdeiro directo da coroa britânica. Camilla teria ainda que esperar por 1999 para se encontrar oficialmente, pela primeira vez, com os filhos de Carlos, Harry e William. Seis anos depois, finalmente o casamento.
Porquê só agora? Ou porquê agora? A resposta à primeira pergunta é que Carlos terá conseguido superar os principais obstáculos que o impediam de se casar com Camila: a oposição da rainha e a oposição da Igreja Anglicana. Ontem, os especialistas da monarquia britânica explicaram que a mais feroz opositora à união de Carlos e Camilla no Palácio de Buckingham era a rainha-mãe. A sua morte, há três anos, deixou o caminho mais livre a Carlos para convencer a rainha Isabel II a dar a sua bênção ao casamento. Ontem, a soberana foi uma das pessoas que se declararam "encantadas" com a notícia do enlace.
A oposição oficial da Igreja Anglicana ao casamento de divorciados era o obstáculo mais conhecido a este casamento. Carlos, apesar de se ter divorciado de Diana em 1996, é considerado viúvo aos olhos da Igreja. Não é o caso de Camilla que se divorciou em 1995 de Andrew Parker-Bowles. A solução encontrada foi optar por uma cerimónia civil seguida de um serviço religioso que será conduzido pelo Arcebispo de Cantuária, Rowan William, que assim "apadrinhará" a união.
A resposta à segunda questão é que, como sublinhava a BBC, apesar de o casal já viver há alguns anos na residência oficial do príncipe de Gales, e de Carlos ter vindo suavemente a habituar os britânicos à ideia de que os dois faziam uma casal, Camilla continuava a ser tratada como "a amante" no que diz respeito ao protocolo da realeza. A última vez que Carlos foi convidado para um casamento real e percebeu que Camilla não só não o podia acompanhar como tinha que ficar sentada longe dele, o príncipe recusou o convite e, garantem fontes da BBC, terá dito: "Basta".
As imposições do "fantasma" de Diana
Finalmente, faltava contornar o "fantasma" de Diana e a oposição da opinião pública à eventualidade de Camilla algum dia poder vir a ser rainha de Inglaterra. A partir do dia 8 de Abril, Camilla passará a ser duquesa da Cornualha e alteza real, e depois princesa consorte se Carlos subir ao trono de Inglaterra. Passará também a ser personalidade feminina mais eminente da família real logo a seguir à rainha Isabel II.
Enquanto herdeiro directo da coroa de Inglaterra, Carlos tem o título de príncipe de Gales. Diana tornou-se, por isso, Princesa de Gales no dia em que se casou com Carlos em 1981. Apesar do divórcio em 1996, continuou a ser chamada assim até à sua morte num acidente de viação em Paris um ano mais tarde. Desde então o título de princesa de Gales ficou vazio.
A lógica indicava que Camilla seria a próxima princesa de Gales, mas o título está tão irremediavelmente colado a Diana que muitos peritos em questões de realeza consideraram "acertada" a opção de não o passar à mulher que a própria Diana responsabilizou pelo desmoronamento do seu casamento com Carlos.
A lógica também indicava que Camilla seria rainha quando Carlos fosse rei. Mas mais uma vez, a decisão "acertada" foi a de criar um precedente na história da monarquia britânica. Até agora, todas as esposas dos reis de Inglaterra foram chamadas de rainhas consortes. Camilla será apenas princesa consorte.
Britânicos à espera do rei William
Nas ruas de Londres, a reacção dos britânicos interrogados ontem pelos jornalistas era de resignação e indiferença e não tanto de surpresa. "Mais tarde ou mais cedo tinha que ser. Eles foram feitos um para o outro", disse uma cabeleireira de 39 anos à AP. "Já não era sem tempo", começou um reformado de 69 anos antes de ser interrompido pela mulher: "Ela não vai aguentar as comparações com a princesa Diana", diz. Por isso espera que depois do enlace Carlos "tome a boa decisão de se retirar para que William possa ser o futuro rei de Inglaterra".
Jeanne, uma dona de casa, também aposta em William. "Não quero que Carlos seja rei, sobretudo com ela como esposa. Ele não ama o povo, prefere as suas flores." Uma sondagem efectuada ontem pela Sky News indicou que 70 por cento dos britânicos não aprovam este casamento.
Os dois principais interessados nesta longa história de amor (e traição) declaram apenas um coisa: que estão "absolutamente encantados" com a oficialização do seu noivado.