Investigação ao roubo das jóias da coroa portuguesa termina sem resultados
Holanda terminou investigações ao roubo, considerado uma perda incalculável
O Ministério da Justiça holandês revelou ontem que terminou oficialmente a investigação do roubo das jóias portuguesas há dois anos em Haia. Segundo o porta-voz do ministério, Evert Boerstra, as investigações acabaram em Dezembro, altura em que Portugal foi informado oficialmente."As investigações pararam, infelizmente não houve resultados", disse Boerstra ao PÚBLICO. "As investigações terminaram agora porque já não há mais pistas para investigar." Se aparecerem "pistas importantes", concluiu, as investigações podem ser reabertas.
O roubo das jóias da coroa portuguesa foi a 2 de Dezembro de 2002 no museu municipal de Haia, tendo sido roubadas seis peças portuguesas, num total de 50 peças de vários países. As peças portuguesas, que pertenciam à colecção do Palácio Nacional da Ajuda, eram as mais valiosas e terão um seguro de 6,5 milhões de euros. Portugal emprestou 15 jóias para uma exposição temporária de carácter didáctico intitulada "Diamante: da Pedra Bruta à Jóia".
Ontem, apesar de várias de tentativas, não foi possível obter qualquer comentário do Ministério da Cultura, da directora do Palácio Nacional da Ajuda ou da presidência do Instituto Português do Património Arquitectónico (Ippar), organismo a que pertence o palácio.
O porta-voz holandês escusou-se a revelar qualquer pormenor sobre a investigação que durou dois anos, acrescentando apenas que "nos últimos tempos" já tinham menos pessoas a trabalhar no caso.
Testemunhos da soberania nacional
"O roubo foi um dos maiores desastres para o património artístico nacional desde que há uma preocupação sistemática com a conservação do património móvel, que começou no final do século XIX", disse Nuno Vassallo e Silva, especialista em joalharia antiga. "São jóias da coroa e testemunhos da soberania nacional."
Este especialista lembra que o conjunto das jóias da coroa é constituído por cerca de 40 items, alguns com mais de uma peça, mas que entre as jóias desaparecidas estão algumas das mais importantes, como o castão de bengala de D. José I e o colar. "O castão era uma das jóias de topo. É um raríssimo testemunho da joalharia de corte francesa do século XVIII."
José Baptista, que negoceia em joalharia antiga, considera as jóias perdidas para sempre: "Não acredito que alguma vez na vida as peças sejam recuperadas. O roubo parece ter sido uma encomenda."
Na sua opinião, os 150 quilates dos 35 brilhantes da gargantilha já terão sido relapidados em talhe moderno. "Valem uma fortuna. E quanto é que vale o castão de bengala que pertenceu a D. José I? O diamante em bruto? O valor do seguro é ridículo, inqualificável." José Baptista lamenta ainda que só tenha tido a oportunidade de ver estas peças uma vez em Portugal, quando os empréstimos para exposições no estrangeiro eram sistemáticos.
As críticasHá dois anos, quando o roubo foi conhecido, vários responsáveis de instituições museológicas consideraram o empréstimo desadequado, devido ao carácter didáctico da exposição. De seguida, no rescaldo do roubo, o então ministro da Cultura Pedro Roseta pediu aos organismos do ministério uma lista dos tesouros nacionais, com o objectivo de estabelecer novas regras para a circulação de obras. O Instituto Português de Museus já tem a sua lista pronta.
Agora, terminado o inquérito policial, Portugal pode pedir para ser indemnizado, recebendo o seguro para a exposição feito pelo museu holandês para o Palácio Nacional da Ajuda. Se as jóias aparecerem posteriormente, Portugal tem a possibilidade de voltar a comprar as jóias, uma vez que, pago o seguro, a propriedade passa para os seguradores holandeses. com Lucinda Canelas