Cientistas apelam à sequenciação do genoma do celacanto, um peixe que se julgava extinto
Os genes de um peixe mais velho que os dinossauros podem revelar como eram os animais que colonizaram a terra
Um grupo de cientistas norte-americanos está a defender a sequenciação do genoma do celacanto, um peixe que é considerado um verdadeiro fóssil vivo: pensava-se que estivesse extinto há 80 milhões de anos, mas foi redescoberto em 1938, ao largo das ilhas Comores, no oceano Índico. Richard Meyers, da Universidade de Stanford, e Chris Amemiya, do Instituto de Investigação Benaroya, em Seattle, defenderam na edição de Dezembro da revista "Genome Research" que há bons motivos para aplicar as novas técnicas da genómica à espécie "Latimeria chalumnae". Pensa-se que é um parente próximo do peixe que saiu da água e do qual descendem os animais terrestres - seres humanos incluídos.
O celacanto apareceu na Terra há 400 milhões de anos - é mais antigo que os dinossauros, que surgiram há cerca de 220 milhões de anos e desapareceram há 65 milhões.
O peixe descoberto em 1938 tinha cerca de 1,5 metros de comprimento e pesava cerca de 59 quilos. Desde então, cerca de 200 celacantos da espécie "Latimeria chalumnae" foram apanhados naquela zona. Um deles, com cerca de 100 quilos, foi capturado no Canal de Moçambique, com 26 embriões. Dois deles estiveram em exibição no pavilhão de Moçambique, na Expo-98, mas desapareceram misteriosamente.
Em 1998, os cientistas tiveram nova surpresa, ao encontrarem outra espécie de celacanto, na Indonésia, a dez mil quilómetros de distância das Comores, ao largo da ilha vulcânica de Manado Tua. Foi denominado "Latimeria menadoensis". Mas é possível que exista pelo menos uma terceira, também em águas indonésias.
As suas barbatanas, esqueleto e grandes escamas sofreram poucas alterações em relação aos seus antepassados, conhecidos através de fósseis. O facto de o celacanto ter evoluído tão pouco, defendem os investigadores, torna-o um alvo de eleição para estudos de comparação entre genomas.
Até agora, foram sequenciados os genomas de cerca de 200 seres vivos - sobretudo micro-organismos, mas também criaturas complexas, como o homem, o ratinho, o peixe-balão, ou o arroz. "Mas faz-nos falta um organismo que nos elucide sobre a emergência dos vertebrados terrestres. Não sabemos que alterações, ao nível do genoma, acompanharam a transição da água para a terra. O genoma do celacanto podia ajudar-se a compreender isso", defende Myers, citado num comunicado da Universidade de Stanford. Qualquer característica genética que exista nos animais terrestres e que esteja em falta no celacanto, poderá representar uma mudança que permitiu a vida na terra.
Ao contrário da maioria dos peixes, que se reproduzem rapidamente e que têm gerações curtas, o celacanto reproduz-se muito lentamente e tem crias ainda jovem, além de viver uma longa vida. Esta característica pode explicar que, ao longo destes milhões de anos, o celacanto teve gerações de descendentes em menor número para poder acumular mutações.