IBM quer vender negócio dos PC
Um estudo realizado por uma destacada consultora - e cujas conclusões haviam sido tornadas públicas há umas semanas - apontava curiosamente como uma das tendências no domínio dos PC para os próximos anos a redução do número de grandes fabricantes de computadores pessoais. O que poucos esperariam era que fosse a IBM, a pioneira dos "personal computers" em 1981, o primeiro fabricante global a, 23 anos decorridos, "atirar a toalha ao chão" e a desistir de um mercado tão significativo, apesar da drástica compressão das margens de lucro verificada ao longo dos últimos dez a doze anos.
É certo que, de acordo com os números da consultora IDC relativos ao último trimestre, a IBM detinha uma quota de mercado de apenas 6 por cento a nível mundial - a que corresponderam menos de 2,7 milhões de computadores vendidos -, num terceiro lugar atrás da HP (com 16,1 por cento e 7,176 milhões de unidades) e da Dell, com 18 por cento e mais de 8 milhões de computadores vendidos. E, se se olhar apenas para o mercado dos EUA, a posição relativa da IBM foi ainda mais modesta, com um quarto lugar "ex aequo" com a quase falida Gateway - ambas com 5,2 por cento e 800 mil computadores vendidos - mas bem atrás da HP (cuja quota foi de 20,5 por cento) e da Dell, que assegurou 32,8 por cento das vendas, com mais de 5 milhões de computadores.
E se é um facto que há muito a venda de computadores pessoais, portáteis ou não, há muito que deixara de ser lucrativa para a IBM, a empresa sempre os mantivera porque seria impensável que um dos maiores fornecedores mundiais de tecnologias de informação - dos "mainframes" aos servidores de quase todo o tipo, dos sistemas operativos às aplicações mais especializadas - não pudesse ter na sua oferta também os computadores pessoais. E, no mais exigente segmento dos portáteis para uso profissional, a IBM sempre conseguira manter uma (quase sempre) merecida imagem de competência e robustez, quando não mesmo de inovação, desde que lançou os primeiros modelos da sua família ThinkPad.
Mas parece ter prevalecido a tese de que os computadores pessoais se transformaram definitivamente num produto de consumo, crescentemente indiferenciável e cujas magras margens de rendibilidade não seriam compatíveis com uma pesada estrutura de custos como é a da IBM, com todos os seus investimentos em investigação e desenvolvimento (I&D) e que faz dela a empresa que, desde há dezenas de anos, maior número de patentes regista em cada ano. Mas isso já não a impedira de, há pouco mais de um ano, vender a sua divisão de discos rígidos à Hitachi, quando a sua quota de mercado era bastante invejável.
Embora os porta-vozes da IBM tanto nos EUA como em Portugal tenham respondido com a proverbial posição de que a empresa "não confirma nem desmente rumores", o que é certo é que tanto os dois jornais diários atrás referidos como, depois, os "sites" noticiosos mais importantes, como a Cnet, são unânimes nos "rumores": a Big Blue está mesmo no mercado em busca de quem lhe compre o seu negócio dos PC - que representa cerca de 12 por cento da facturação total da IBM - e o candidato que se perfila como o mais provável seria a Lenovo, o maior fabricante chinês (da República Popular da China, não de Taiwan) de computadores pessoais, que em tempos usou o nome de Legend e já foi distribuidora na região dos computadores da IBM e da AST, de Taiwan.
Mas tal desfecho já não será tão surpreendente se se atentar, por um lado, na crescente transferência do fabrico de componentes cada vez mais complexos e integrados para o continente asiático (e para a China e Taiwan em particular) e, por outro, no facto de o mercado chinês ser aquele que maiores taxas de crescimento na procura de PC vai registar nos próximos anos. A própria IBM há muito que deixara de fabricar os seus computadores pessoais, cedendo à tendência generalizada de subcontratar a sua manufactura aos OEM do Extremo Oriente e mantendo apenas o projecto e "design" de alguns modelos mais inovadores na linha dos portáteis.
Fechar-se-á assim um ciclo de quase um quarto de século, em que a determinação do então presidente da IBM, Frank Cary, permitiu ao engenheiro Don Estridge e 40 colaboradores "esconderem-se" do resto da empresa num laboratório abandonado em Boca Raton, na Florida, para desenvolverem o IBM PC 5150 (na imagem da pág. 1). Não era uma grande máquina, mesmo para os padrões da época: com um processador 8088, da Intel, que trabalhava à frequência de relógio de 4,77 MHz, apenas 16 KB de memória e uma unidade para disquetes de 5,25 polegadas com 160 KB de capacidade - e custaria em Portugal bastante mais de mil contos na época. Mas foi o arranque de uma vertiginosa evolução, graças à qual, hoje, um PC corriqueiro tem mais poder computacional que um "mainframe" de então.