Um "resort" de arquitectura contemporânea no Bom Sucesso
A experiência é única em Portugal. Os proprietários de 160 hectares de terrenos no Bom Sucesso, junto à Lagoa de Óbidos e ao Oceano Atlântico, decidiram convidar 14 arquitectos portugueses de renome a apresentar projectos para aquele território, que será transformado num "resort", com design de marca.A entidade promotora é a empresa Acordo SGPS, que apresentou segunda-feira em Lisboa, no Centro Cultural de Belém (CCB), os projectos residenciais para o "Bom Sucesso - Design Resort Leisure, Golf & Spa".Álvaro Siza Vieira, Alcino Soutinho, Eduardo Souto Moura, Gonçalo Byrne, Carrilho da Graça, Manuel Aires Mateus, Rogério Cavaca, Gonçalo Cardoso de Menezes, Inês Lobo, Luís Pessanha Moreira, Madalena Cardoso de Menezes, Francisco Teixeira Bastos, Nuno Graça Moura e Rui Passos foram os participantes na experiência - uma espécie de "cadáver esquisito", em que a cada um foi entregue uma fatia do território para que imaginassem para ali uma casa, ou um conjunto de moradias em banda.Ao todo, na primeira fase, o projecto contará com 199 lotes e ainda com 165 moradias em banda - o que representa dois terços do empreendimento, de acordo com José Miguel Roque, presidente da Acordo.As únicas condições colocadas aos arquitectos foram as exigências de harmonia na implantação e que cada um dos projectos se articulasse entre si e com as áreas adjacentes, mantendo-se os cobertos vegetais entre os lotes.Para o promotor, esta primeira fase do empreendimento, cujas obras deverão iniciar-se no segundo trimestre de 2005, vai ser "a maior exposição de arquitectura contemporânea" do país.Além das casas já projectadas - cujas maquetas estão em exposição no CCB até dia 5 de Dezembro -, o empreendimento terá um campo de golfe com 18 buracos, um "spa", um hotel, um centro equestre, uma zona comercial, um campo de futebol relvado, um clube de remo, mergulho e vela, um clube de ténis, um heliporto e um hotel para animais, entre outros serviços e equipamentos.A entidade promotora pretende que o complexo se transforme na "principal referência na Europa em termos de empreendimentos imobiliários de luxo".Uma experiência rara"Os projectos falam por si e não vou aqui falar de arquitectura, mas do grande entusiasmo que esteve presente nesta realização - que é o que falta muitas vezes - e do desejo evidente de se conseguir qualidade", disse Siza Vieira. "Experiências como esta não há muitas" salientou o arquitecto, citando apenas o caso de um bairro na Alemanha, Weissenhof, um projecto que envolveu Mies Van Der Rohe e outros arquitectos, e cujo resultado "teve grande influência no lançamento da arquitectura moderna".No caso do Bom Sucesso, tratando-se de arquitectos de várias gerações, em que não há propriamente um estilo a uni-los, "o elemento de ligação foi o respeito pela paisagem", afirmou Siza. Houve "grande atenção à topografia do terreno, que é complicado", e respeitaram-se as plataformas naturais. "Com desaterros violentos era possível ter uma outra ordem interna, mas o respeito pela topografia, além de ter interesse económico, tem interesse paisagístico", sublinhou.De acordo com Siza Vieira, "não houve nenhuma reunião de troca de informação de trabalho" entre os arquitectos convidados, mas no resultado "há uma grande unidade: todos fomos a Óbidos e à história, embora isso não se note a não ser na cor predominante, o branco".Para o arquitecto, com esta experiência do "resort" não se corre o risco de haver excesso de arquitectura numa zona que até aqui se manteve bastante selvagem. "Eu também me preocupo com isso. Há sempre o perigo de excesso de desenho, ou de uma carga dispersiva de cada autor da qual possam resultar desequilíbrios ou mesmo cansaço. Mas, pelo que vi até agora, em ante-projecto, não me parece que haja exibição, nem aquela obsessão pela expressão da autonomia, da marca, que muitas vezes acontece." Quanto à ocupação do território da antiga Quinta do Bom Sucesso, situada entre o Vau, a Lagoa de Óbidos e o mar, local onde durante muitos anos não foi permitido construir - "levámos 12 anos para legalizar o processo", disse o presidente da Acordo -, também o presidente da Câmara de Óbidos, Telmo Faria, garantiu que não haverá construção em excesso."Apenas sete por cento dos 160 hectares irão ser ocupados" com as novas construções. Os projectos "terão ainda de ser licenciados pela câmara", disse Telmo Faria, salientando que "até aqui o processo tem decorrido com rapidez".O campo de golfe, respeitando um projecto do arquitecto Donald Steel, assinalará o arranque deste empreendimento e irá começar a funcionar já dia 2 de Janeiro de 2005, disse ontem o presidente da Acordo.Mas no caso do hotel, que terá 180 quartos, a entidade promotora do empreendimento ainda não decidiu a quem entregará a exploração do estabelecimento, para o qual ainda terá de ser elaborado um projecto, que deverá respeitar os mesmos parâmetros dos conjuntos residenciais: "não ser um hotel em altura, ser uma peça de arquitectura contemporânea e manter a cobertura vegetal da zona"."O horizonte de conclusão do empreendimento não passará dos cinco anos", disse José Miguel Roque. A segunda fase do projecto "dependerá do que o mercado quiser", acrescentou, mas, para já, o que está previsto é a construção de 142 lotes individuais e 99 moradias em banda.250 milhões de euros de investimento1500 a 2000 pessoas irão viver no empreendimento, que terá ainda um população flutuante elevada180 quartos de hotel300 postos de trabalho serão criados 1,560 milhões de metros quadrados de área total601 mil metros quadrados de campo de golfe com 18 buracos590 mil metros quadrados de área urbanizável112 mil metros quadrados de área de construção total14 arquitectos elaboraram projectos residenciais100 pessoas trabalharam na primeira fase do projecto