É isso que se vê em “2046": a rotina amorosa de um pinga-amor (Leung, de novo) tornado cínico por em tempos ter amado uma mulher (Cheung, ou o seu espectro), e a previsibilidade dos seus jogos de sedução e tudo o que lhe é comum, o sexo, os ciúmes, a traição, o fim das relações. Dito de outro modo: Wong Kar-wai filma os rituais amorosos mas este é um filme decididamente “not in the mood for love”. É como se “In the Mood for Love” fosse metafísico e “2046” físico, mundano (também, por isso, há quem não lhe perdoe). Certeza: ninguém filma como Wong Kar-wai (e, sobretudo, ninguém filma esta rarefacção que não chega a ser argumento; são rastos, restos) que, mesmo numa obra assumidamente imperfeita, consegue ser o mais fulgurante dos cineastas.
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