Iraque: americanos retiram de Mossul e deixam cidade entrege aos rebeldes
O arranque do assalto a Falluja desencadeou acções de grupos rebeldes por todo o centro e norte do Iraque, as zonas onde se concentra a população sunita. Desde a declaração do estado de emergência, domingo, todos os dias há mais uma cidade onde é imposto o recolher obrigatório. Ontem foi a vez de Hawija, 240 quilómetros a norte de Bagdad, onde confrontos entre insurrectos e tropas iraquianas fizeram dois mortos entre a população e feriram dez pessoas, incluindo dois polícias.
A violência continuou em Samarra, Baiji, Baquba, Tiktit, Ramadi e Hilla. E alastrou à capital, onde se verificaram combates de rua no bairro sunita de Adhamiya. Na zona sul da cidade um soldado americano foi morto numa emboscada, enquanto a nordeste três militares ficaram feridos quando o seu helicóptero foi derrubado por fogo.
Em Mossul, apresentada por americanos e rebeldes como a nova frente de batalha, não houve combates, ao contrário do que acontecera nos dias anteriores. Nas ruas já só estavam rebeldes: as forças iraquianas recuaram para tentar reorganizar-se. O governo local pediu ajuda a Bagdad e aguardam-se reforços. Ao mesmo tempo, o Curdistão prepara o envio das suas forças locais, constituídas pelos antigos peshmergas dos dois grandes partidos da região.
"Queremos abrir esta nova frente para aligeirar a pressão sobre Falluja", explicava ao jornalista da AFP um dos recém-chegados. Segundo a agência, a maioria dos rebeldes são árabes, mas há também turcomanos entre eles.
Curdos, árabes e petróleoAo contrário das cidades etnicamente e religiosamente homogéneas do chamado "triângulo sunita", Mossul conta com uma significativa minoria de cristãos, grandes comunidades curdas e turcomanas (com laços à Turquia) e árabes sunitas. A outra diferença substancial é a existência de petróleo: foi o petróleo que levou os britânicos a ocuparem-na em 1918, apesar dos protestos turcos, e é também o petróleo que a faz ser disputada por árabes e curdos.
Tal como Kirkuk, ficou de fora da região semi-autónoma do Curdistão, estabelecida depois da revolta curda contra o regime a seguir à guerra de 1991. Ambas foram sujeitas à política de "arabização" promovida por Saddam Hussein (só em Kirkuk, um dos alvos preferenciais do processo levado a cabo em toda a região, foram expulsos 200 mil curdos).
Da alteração demográfica resultaram duas cidades de maioria árabe no seio de uma região em que a população é esmagadoramente curda. Com a queda de Saddam, muitos curdos regressaram, deixando assustados árabes e turcomanos. Apesar de um recomeço atribulado, com os árabes a acusarem os curdos de pilhagens e de estarem a ocupar as suas antigas casas, a cidade era apontada até há pouco tempo como exemplo de estabilidade por parte dos americanos.