Mistério do desaparecimento de Joana já dura há uma semana

Os cartazes com a fotografia de Joana, de oito anos, continuam coladas nas montras dos cafés e outros estabelecimentos do barlavento algarvio. A criança, de oito anos, desapareceu da aldeia de Figueira, no concelho de Portimão, faz amanhã oito dias. A Policia Judiciária de Faro, desde anteontem, em colaboração com as suas congéneres estrangeiras, tomou conta da investigação. Inicialmente, o caso esteve a cargo da Guarda Nacional RepublicanaA menina saiu de casa dos seus pais, no domingo passado, para ir comprar um pacote de leite e duas latas de conserva, cerca das 20h00, à pastelaria/mercearia que fica a dez minutos de distância de onde mora. Adquiriu a mercadoria, mas a partir daí nada mais se sabe. A mãe - afirmou a dona do estabelecimento - só quase duas horas depois foi perguntar pela filha, que não tinha regressado a casa. Ao ter conhecimento deste facto, a população ficou alarmada e mobilizou-se para localizar a menina, em paralelo com as acções desenvolvidas pela GNR. Os esforços redundaram num fracasso.Joana morava com a mãe, doméstica, e o padrasto - trabalhador num estaleiro de sucata - e mais dois irmãos: Lara, de um ano, e Ruben, de dois. A família habita um rés-do chão, arrendado, de uma casa de habitação social, na aldeia de Figueira. Leonor Cipriano tem mais três filhos que não viviam com ela - uma rapariga de 15 anos e dois rapazes, um de 12 e outro de 5 anos.Os três dias antes do desaparecimento, Joana tinha-os passado em casa da mãe do padrasto, Maria de Lurdes Davide, na Mexilhoeira Grande. No domingo, a "avó Lurdes", porque uma outra neta fazia 11 anos, ofereceu uma pequena festa às crianças. A mãe de Joana, refere, ao final da tarde foi buscá-la, argumentando: "Vem, está lá em casa o tio, vamos ao baile." Nesse dia realizava-se a festa do berbigão na aldeia. Ontem, enquanto a mãe de Joana se deslocou a Lisboa para participar no programa da manhã da SIC e, depois, no Jornal da Uma, da TVI, Maria de Lurdes ficou a cuidar das outras duas crianças, Lara e Ruben. O miúdo, que não parava de brincar, quando viu a imagem da irmã na televisão, gritou: "Olha, olha...", apontando com o dedo na direcção do ecrã. A "avó", com a menina mais nova ao colo, deixou cair uma lágrima."A menina estava triste"A seguir, começou desfiar a sua versão da história. "A menina, no domingo, quando estava em minha casa, estava triste. Não sei porquê, mas estava triste", desabafou. Evita utilizar a palavra rapto, para qualificar o que se terá passado, mas adianta que tem recebido telefonemas provocatórios.No cartaz de apelo à descoberta da rapariga, consta o número de telemóvel de Maria de Lurdes. Por isso, diz ter recebido muitas mensagens, algumas com voz distorcida. A mais concreta, afirmou, aconteceu anteontem à noite, à hora do jantar, numa chamada atendida pelo filho. "A rapariga está com o pai", disse uma voz de homem. "E como é que sabe?", perguntou. "Fui eu que a fui buscar." Quando lhe perguntaram quem era, desligou o telemóvel, sem cuidar de ocultar o número. O relato foi transmitido aos investigadores da PJ, que terão desvalorizado a informação, alegando que, muitas das vezes, trata-se apenas de brincadeiras de mau gosto.O pai da Joana, que vive em Lagos, por coincidência - apurou o PÚBLICO - encontrava-se quase à mesma hora do telefonema na pastelaria Célia, o último local público onde a menina foi vista. Intrigado com as notícias e as especulações que têm vindo a circular, referiu a dona do estabelecimento, "o homem queria saber notícias da filha".Entretanto, à medida que os dias passam, a "notícia da Joana" deixa de constituir o assunto principal das conversas, só reaparecendo quando surgem as câmaras de televisão. Mas encontra-se um sentimento de preocupação e de solidariedade na aldeia: "A menina que desapareceu poderia ser a milha filha ou o meu filho..." É este o género de comentário que mais se ouve, quando se aborda o assunto na rua.A família Cipriano vive na Figueira há cerca de um ano. Por se tratar de um agregado familiar de fracos recursos, muitas das pessoas da Figueira oferecem roupas aos filhos, manifestando sinais de afecto às crianças Sobre a Joana, os populares dizem tratar-se de uma criança esperta, que não tinha quaisquer dificuldades de relacionamento social. Por fim, Maria de Lurdes, a "avó" (mãe do padrasto), comentando o cenário de um possível rapto, afirmou: "Se alguém lhe pedisse uma informação, facilmente se aproximava de um carro."

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