Mais 1,3 milhões de pobres nos Estados Unidos em 2003

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Os números da pobreza foram divulgados ontem e são embaraçosos para o Presidente George W. Bush Reuters

Estes números foram divulgados ontem, e são embaraçosos para o Presidente George W. Bush, nas vésperas do início da convenção do Partido Republicano em Nova Iorque. A economia americana não está a ajudar a recandidatura de Bush à Casa Branca: as estatísticas de desemprego e os preços dos combustíveis também são problemáticos para o Presidente.

Os dados do Censo mostram que 12,5 por cento da população dos EUA vive abaixo do limiar de pobreza; este número inclui 12,9 milhões de crianças. Foi o terceiro ano consecutivo em que este número subiu - ou seja, desde que Bush chegou à Casa Branca, todos os anos há mais americanos pobres.

2003 foi também foi o terceiro ano consecutivo em que o número de americanos sem um seguro de saúde aumentou; como não há um sistema de saúde público a nível nacional nos EUA, não ter um seguro pode significar grandes dificuldades no acesso a cuidados médicos.

O censo traz ainda mais más notícias: o rendimento médio das famílias americanas manteve-se ao mesmo nível entre 2002 e 2003 (uma média de 43,3 mil dólares, perto de 36 mil euros). Mas entre famílias hispânicas, o rendimento médio caiu 2,6 por cento - um dado particularmente desagradável para Bush que está a fazer um esforço para apelar ao voto dos "latinos".

A economia dos EUA saiu oficialmente da recessão iniciada em 2000 - o PIB americano deverá crescer 3,8 por cento este ano, uma taxa muito elevada para um país industrializado. Mas os benefícios macroeconómicos estão a demorar a traduzir-se num aumento da prosperidade geral.

O desemprego em particular preocupa os americanos - a retoma do mercado laboral tem sido muito lenta e abaixo das previsões da Casa Branca. Ao mesmo tempo, os preços altos do petróleo criam o risco de inflação e dão aos cidadãos um índice claro dos problemas económicos: preços-recorde nas bombas de gasolina.

O "USA Today" publicou no final de 2003 um inquérito junto de 47 economistas, perguntando-lhes se a economia iria ajudar Bush nas eleições de Novembro; nessa altura, todos disseram que sim. O jornal voltou a fazer a pergunta ao mesmo painel esta semana; desta vez, a maioria dos interrogados disse que não. Mas irá a economia ser o factor decisivo?

Não é a economia, estúpido

É parte do senso comum nos meios políticos americanos que o estado da economia é o tema mais importante numa eleição presidencial. Este ano, contudo, as campanhas de Bush e Kerry estão a dedicar mais atenção a temas de política externa e segurança.

Vários estudos mostram que os temas que mais preocupam a maioria dos americanos são a guerra no Iraque ou o terrorismo. A economia continua a ser importante, mas pode não ser crucial.

Uma sondagem ontem divulgada pelo diário "Los Angeles Times" confirma esta ideia: apesar de a economia não estar a recuperar ao ritmo esperado, as intenções de voto em Bush subiram.

O actual Presidente aparece com 49 por cento dos votos, John Kerry com 46 por cento. É a primeira vez que o republicano está à frente deo democrata numa sondagem do "L. A. Times". No entanto, a diferença está na margem de erro. Como acontece em virtualmente todas as sondagens nos últimos seis meses, Bush e Kerry continuam numa situação de "empate técnico".

Parece garantido que as presidenciais se irão decidir por muitos poucos votos. Mesmo que a economia não seja este ano a maior preocupação dos americanos, poderá ser um factor determinante - sobretudo junto dos eleitores indecisos, que tendem a ser menos "ideológicos" que o resto do eleitorado, e a "votar com a carteira".

Daí que Bush esteja a preparar novas iniciativas na área económica; espera-se que o Presidente revele um plano de reforma fiscal durante a convenção. Os republicanos estão a tentar combater a impressão de que a economia piorou com Bush na presidência.

Gregory Mankiw, conselheiro económico da Casa Branca, escreveu um artigo de opinião no "New York Times", esta semana, intitulado "A economia americana está forte e a tornar-se ainda mais forte". As estatísticas divulgadas ontem pelo Censo tornam essa ideia mais difícil de defender.

O "timing" da divulgação dos dados do censo é controverso. Os republicanos queixaram-se da proximidade com a convenção do seu partido; os democratas notaram que o Censo costuma divulgar estas estatísticas no fim de Setembro, mais perto da data das eleições, mas este ano antecipou a sua publicação.

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