Europa aquece mais rapidamente do que o resto do mundo

O norte da Europa com mais chuva, o sul cada vez mais seco. Ondas de calor mais frequentes e intensas. Mais inundações. Prejuízos cada vez maiores. Estes são alguns dos efeitos das mudanças climáticas na Europa que têm sido sentidos por quem vive no Velho Continente e que deverão agravar-se no futuro.Um relatório da Agência Europeia do Ambiente, ontem tornado público, mostra que a Europa está a aquecer mais rapidamente do que o resto do mundo. E que se prevê que a tendência vá manter-se. De acordo com projecções apresentadas, os Invernos frios correm o risco de terem desaparecido em 2080.O documento, que pode ser consultado em www.eea.eu.int, começa por mostrar que, nos últimos cem anos, o aumento da temperatura média global no mundo foi de cerca de 0,7 graus, enquanto na Europa atingiu os 0,95 graus. O nordeste da Rússia e a Península Ibérica estão entre as regiões com maiores subidas.Até 2100, continua o estudo, intitulado "Impacts of Europe's changing climate", estima-se que as temperaturas possam subir bastante mais, sendo entre 1,4 a 5,8 graus superiores ao que se observava em 1990. Uma vez mais, caso não sejam tomadas medidas, a Europa poderá destacar-se: em 2100, a temperatura poderá ter aumentado entre dois e 6,3 graus.Tudo indica, segundo os especialistas, que o aquecimento global dos últimos 50 anos tem como causa as actividades humanas, em particular as emissões de gases com efeito de estufa, entre os quais o dióxido de carbono (CO2) - que resulta da queima de combustíveis fósseis. Ora a concentração de CO2 na atmosfera atingiu o ponto mais alto desde há pelo menos 420 mil anos.Por tudo isto, "a Europa deve continuar a liderar os esforços mundiais para reduzir a emissão" destes gases, disse, em comunicado, a directora executiva da Agência Europeia do Ambiente, Jacqueline McGlade. É que, recorda, o relatório agora divulgado mostra bem como podem ser graves os efeitos das mudanças no clima. E são vários os exemplos apresentados. Europeus têm de se adaptarOito das nove regiões glaciares da Europa estão em retrocesso e três quartos dos glaciares que existem nos Alpes suíços podem ter desaparecido em 2050. Mais: o aumento da precipitação (quantidade de água da chuva depositada no solo) deverá continuar a aumentar nos países do norte da Europa e a diminuir no sul. De resto, durante os próximos cem anos o ritmo de subida das águas deverá ser entre duas a quatro vezes superior ao que aconteceu no século passado.As consequências far-se-ão sentir também ao nível da saúde das pessoas - em 2003, por exemplo, durante a onda de calor que assolou a Europa, registaram-se mais 20 mil mortos do que noutros anos - para já não falar dos custos económicos. Desde 1980, quase dez em cada três catástrofes registadas na Europa estiveram directamente relacionadas com situações climáticas extremas. A média anual destes desastres (entre os quais inundações, secas, ondas de calor) duplicou na década de 90, quando comparada com a de 80 e as perdas económicas mais do que duplicaram nos últimos 20 anos.Por tudo isto, diz McGlade, reduzir a emissão de gases é importante mas não chega. É necessário que os europeus aprendam a lidar com as mudanças. "São necessárias estratégias de adaptação às alterações climáticas, à escala europeia, regional, nacional e local". Algumas medidas de adaptação às novas circunstâncias são mesmo sugeridas no relatório (ver caixa).As alterações climáticas podem não ter apenas efeitos negativos, sobretudo se forem tomadas as medidas certas. A agricultura de muitas regiões da Europa, nomeadamente no Norte, poderia, potencialmente, beneficiar de um aumento limitado da temperatura. Menos sorte tem o Sul do continente onde são já visíveis quebras na colheitas. Portugal e Espanha estão entre os países para os quais as projecções têm vindo a apontar efeitos negativos na agricultura.Os resultados agora apresentados vão ao encontro de um estudo divulgado na semana passada por dois especialistas do "National Center for Atmospheric Research", nos Estados Unidos, que sustentam que, na segunda metade deste século, o calor excessivo vai apertar ainda mais na Europa, não só em zonas onde o problema já se faz sentir com frequência - em Portugal, por exemplo - como em áreas normalmente mais poupadas, como França e a Alemanha.

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