Câmara de Santarém cria núcleo para achados da necrópole islâmica
De acordo com a vereadora da Cultura da Câmara de Santarém, Idália Moniz, ainda não está definido como será o núcleo museológico a criar, mas a responsável indica que a sua instalação decorrerá em simultâneo com as obras de construção de uma rotunda prevista para o local.
Idália Moniz diz que o objectivo da iniciativa é "preservar a memória da cidade", embora o trabalho de manter as ossadas e os achados possa vir a ser dificultado pela fragilidade das descobertas. "Temos noção que não é simples o controlo da humidade e da luminosidade no futuro núcleo", salientou a vereadora, revelando que a autarquia já entrou em contacto com outras instituições que possuem achados semelhantes.
Esta será uma forma de sublinhar perante a comunidade local o "relevante interesse histórico e patrimonial" dos achados.
A descoberta da necrópole, a maior do país, ocorreu há cerca de um mês durante os trabalhos de saneamento realizados no Largo Cândido dos Reis. Até ao momento, foram encontradas ossadas de 129 indivíduos, 24 destes já cristãos, provavelmente originários da época posterior à Reconquista, no período medieval.
Para António Matias, arqueólogo responsável pelos trabalhos, a coexistência de um cemitério cristão no interior de um muçulmano é frequente neste período, já que "as cidades eram conquistadas mas mantinham a sua população, originando a existência simultânea de crentes das duas religiões".
Nas escavações foram também encontradas "bolsas de cerâmica doméstica", bem como outro tipo de achados, que compõem a maior descoberta arqueológica da cidade nos últimos anos, ajudando a esclarecer a relação de Santarém com o mundo muçulmano, do qual existiam poucos vestígios até agora.
A cidade foi capital de um reino independente, durante a dominação islâmica da Península Ibérica, mas a necrópole é o primeiro achado de grande relevo que confirma essa informação, salientou António Matias.