Tecnologia pode ajudar a resolver mistério do assassínio de Kennedy

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As duas grandes investigações ao crime de Dallas saldaram-se por conclusões diferentes DR

Esse registo está guardado desde 1990 nos Arquivos Nacionais. Mas está tão gasto que foi arquivado com a recomendação de que não deveria ser reproduzido de novo, porque se correria o risco de ficar definitivamente arruinado.

O "New York Times" revelou esta semana que cientistas do Laboratório Nacional Lawrence Berkeley começaram a trabalhar na construção de um aparelho de análise sonora digital a partir do qual será possível reproduzir, em condições perfeitas, essa gravação.

A fita regista os sons captados por um microfone aberto numa motorizada da polícia quando a caravana presidencial entrou na Dealey Plaza, o local onde JFK foi atingido. A gravação foi feita por um velho Dictaphone instalado na sede da polícia. Ao longo de 18 anos, foi passada, vezes sem conta, na esperança de que contivesse elementos que pudessem ajudar as muitas comissões de inquérito ao crime. Nunca chegou a fornecer provas conclusivas, em parte porque o registo contém muitos ruídos de estática.

As duas grandes investigações ao crime de Dallas saldaram-se por conclusões diferentes. Logo em 1964, a Comissão Warren concluiu que tinha havido um só assassino, Lee Harvey Oswald, que tinha feito três tiros a partir do Armazém de Livros Escolares do Texas, sobranceiro à Dealey Plaza. Em 1979, uma comissão da Câmara de Representantes afirmou que tinham sido efectuados quatro disparos, três do armazém e um quarto de outro local.

Isto serviu para dar novo alento aos adeptos de uma teoria de conspiração, que acreditaram sempre que Oswald fora um bode expiatório de alguém (as hipóteses são imensas - a máfia, cubanos anti-Fidel Castro, o próprio Fidel Castro, o vice-Presidente Lyndon B. Johnson, o complexo militar-industrial norte-americano, os soviéticos, etc, etc, etc).

De que forma pode a velhinha e defeituosa gravação ajudar a esclarecer o mistério? Leslie Waffen, dos Arquivos Nacionais, afirmou ao "NY Times" acreditar não só que o som pode ser capturado mas que, utilizando um processo de análise digital, os cientistas podem eliminar os ruídos de fundo e de estática, proporcionando uma gravação cristalina dos disparos.

São os Arquivos Nacionais que têm também em seu poder o histórico filme de 8 mm feito por Abraham Zapruder (que contém toda a sequência do crime a cores, mas sem som).

Em Junho, a tarefa de resgatar a gravação da sua decadência foi confiada aos laboratórios de Berkeley, cujos cientistas Carl Haber e Vitaliy Fadeiev têm experiência em replicar sons de cilindros de Edison e de velhos discos usando uma câmara óptica digital. O processo, explicou o "NY Times" consiste em digitalizar electronicamente a fita do Dictaphone; obtém-se assim uma imagem digital dos padrões de som, que é possível "limpar" cuidadosamente.

A investigação do Congresso divulgada em 1979 já assentou parte das suas conclusões na comparação entre os sons da gravação e um teste com tiros realizado na Dealey Plaza. Então, ficou a indicação de que o terceiro dos quatro tiros tinha vindo de um relvado sobranceiro à rua por onde a comitiva de Kennedy passava. Mas em 1982 a Academia Nacional das Ciências concluiu que o ruído identificado como o do terceiro tiro era outra coisa, por exemplo estática.

Desde então, a fita nunca mais foi reproduzida. Mas continua a guardar - ou não - segredos que a tecnologia de hoje confia que pode desvendar.

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