Yasser Arafat fez 75 anos e promete sobreviver
Arafat nasceu no Cairo a 4 de Agosto de 1929, filho de um comerciante palestiniano morto na guerra de 1948 (independência de Israel). Fundou a Fatah em 1959 e assumiu a direcção da Organização de Libertação da Palestina (OLP) dez anos mais tarde.
É um sobrevivente. Escapou a mais de 50 tentativas de assassínio e a pesadas derrotas políticas, como o esmagamento das milícias palestinianas na Jordânia, em 1970, ou o desastre do Líbano, em 1982. Em 1988, forçou a OLP a aceitar as resoluções da ONU, que implicavam o reconhecimento da existência de Israel. Em 1990, apoiou Saddam Hussein na invasão do Kuwait, ficando isolado no Ocidente e no mundo árabe.
Regressou à Palestina em 1994, após os Acordos de Oslo (1993), e nesse mesmo ano recebeu o Prémio Nobel da Paz, com os israelitas Yitzhak Rabin e Shimon Peres. No auge da segunda Intifada, foi confinado em Ramallah. Ariel Sharon declarou-o "irrelevante" e prometeu mantê-lo lá "por mais 45 anos".
Ontem não houve festa e Arafat terá mesmo fingido recusar os parabéns dos colaboradores. Vive outro péssimo momento. Nunca a sua autoridade foi tão contestada entre os palestinianos. Em meados de Julho, estalou em Gaza um movimento contra a corrupção da Autoridade Palestiniana, que levou ao pedido de demissão do seu primeiro-ministro, Ahmed Qorei. Este só a retirou perante a promessa de reformas e mais poderes. A "nova guarda" do interior disputa o poder à geração vinda do exílio, "os de Tunes".
A última provocação foi feita no domingo pelo antigo chefe da segurança Mohammed Dahlan, um dos homens fortes de Gaza, considerado pró-americano e defensor do fim da Intifada armada. Em entrevista ao diário "Al-Watan", do Kuwait, declarou que se Arafat não iniciar reformas até ao dia 10 de Agosto, 30 mil pessoas começarão a manifestar-se nas ruas de Gaza para as impor. Reconhecendo que Abu Ammar (nome de guerra de Arafat) "é o símbolo da Palestina e da luta palestiniana", Dahlan advertiu que "há dez anos que os erros se sucedem (...) e ao fim de quatro anos de Intifada, com a acumulação de violências e a asfixia económica imposta por Israel, a situação tornou-se intolerável. (...) Arafat está sentado sobre os cadáveres de palestinianos e sobre a sua catástrofe, quando eles necessitam desesperadamente de uma nova mentalidade."
Longe da reforma e de reformas
O movimento de protesto foi rapidamente cavalgado pelos radicais das Brigadas dos Mártires de Al-Aqsa, grupo armado da Fatah e ponta de lança da segunda Intifada. São responsáveis por inúmeros actos terroristas em Israel. As Brigadas encabeçaram as acções mais duras contra pessoas e símbolos da Autoridade Palestiniana. Agem sempre em nome de Arafat e contra o seu "círculo corrupto", mas segundo alguns analistas estão a transformar-se num grupo autónomo, concorrente da velha guarda, e começam a deixar de prestar contas ao próprio líder.
Um dos seus fundadores, Yasser Nazzal, procurado por Israel, exigiu no domingo a Arafat a realização imediata de eleições palestinianas ou, se tal não for possível, a dissolução da Autoridade Palestiniana.
O jornal "Al Quds al-Arabi" (nacionalista árabe, de Londres) foi directo: "Dizemos ao presidente Arafat que há uma nova geração, jovens palestinianos cujas competências ultrapassam as dos veteranos da política. Jovens que têm as mãos limpas." E lembra-lhe "a existência de uma realidade que se chama a reforma".
Mas os "arafatólogos" consideram precipitado anunciar a sua morte política. O analista palestiniano Mahdi Abdul Hadi afirma que o descontentamento não é suficientemente amplo para constituir uma ameaça séria a Arafat. "Ele não mudará o 'statu quo' e lutará até à última gota de sangue para manter o poder." O general israelita Aharon Farkash, das informações militares, declarou no Knesset que Arafat já "sobreviveu à crise e falharam as jogadas políticas contra ele".
O seu mais recente biógrafo, Barry Rubin, explicou em entrevista à AFP: "As suas capacidades estão em declínio, mas não desapareceram. O seu método consiste em manobrar incessantemente, em prometer reformas sem nunca as aplicar, em apresentar novos planos, em atacar os seus inimigos de dia para os louvar à noite." E conclui: "Ele ainda tem demasiados trunfos e os seus opositores estão profundamente divididos. (...) Penso que permanecerá dirigente dos palestinianos até ao fim da vida."
Comparado com Shimon Peres, que vai fazer 81 anos, ou com Ariel Sharon, de 76, Arafat é relativamente jovem, ironizou na rádio militar israelita o comentador palestiniano Elias Zananiri. "Com todos os erros e enganos, ele permanece o líder palestiniano."