Douro vai produzir 126 mil pipas de vinho do Porto
A região do Douro vai poder produzir este ano 126 mil pipas de vinho do Porto, o que corresponde a um aumento de cerca de 18 mil pipas em relação à última vindima. Mas o que aparentemente seria uma boa notícia para a produção está a transformar-se num novo foco de contestação por parte da Casa do Douro, que critica as alterações introduzidas na distribuição do benefício (a autorização administrativa para produzir vinho do Porto) pelo Conselho Interprofissional do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP).O benefício é distribuído de acordo com a categoria das vinhas, mas o que tem acontecido é que vinhas de categorias diferentes são contempladas com os mesmos montantes. Assim, as vinhas das letras A e B, as melhores, recebem o mesmo benefício, que é ligeiramente inferior ao quantitativo atribuído às vinhas das letras C e D, que, entre elas, é também igual.Este ano, o IVDP decidiu dar sentido ao espírito do método de pontuação das vinhas durienses criado por Moreira da Fonseca, distinguindo letra a letra e beneficiando as superiores. Assim, as vinhas da letra A vão ter direito a produzir por hectare 2570 litros de vinho do Porto, as da letra B a 2529 litros, as da C a 2339 litros, as da D a 2287, as da E a 1979 e as da F a 861. "Considerou-se que é altura de passar da teoria à prática na aposta pela qualidade, começando a valorizar as letras melhores", refere o presidente do IVDP, Jorge Monteiro.A proposta de base ainda previa uma mair redistribuição do benefício pelas parcelas mais bem classificadas segundo o método Moreira da Fonseca, até se chegar à formulação final. "É fundamental que se entenda que o benefício não é um instrumento de política social mas sim de política de qualidade", frisa Jorge Monteiro, reconhecendo que a atribuição de benefício às parcelas com as letras E e F acaba por manter o carácter social desta medida.Esta distinção das letras com a consequente majoração das letras superiores, num respeito pela qualidade das uvas, não agrada à Casa do Douro, uma vez que a maioria dos viticultores possuem vinhas das letras inferiores. Por outro lado, o comércio em geral, na hora de comprar as uvas, paga-as todas ao mesmo preço, independentemente da categoria das vinhas. O organismo que representa a lavoura pretendia que as 18 mil pipas de benefício que vão ser produzidas a mais este ano fossem repartidas de forma igual por todas a letras e que, a haver alterações, elas fossem postas em prática só no próximo ano. Foi nesse sentido que o Conselho de Viticultores do Douro - o órgão máximo da produção - se pronunciou, rejeitando a proposta de comunicado de vindima apresentada pelo IVDP. Porém, na última reunião do Conselho Interprofissional do IVDP - que tem a palavra final -, o comunicado de vindima foi aprovado com os votos dos representantes do comércio e do presidente do Instituto, Jorge Monteiro. Dez elementos da produção votaram contra, mas três abstiveram-se, o que fragilizou a posição da lavoura. Casa do Douro patrocina manifestação de protestoMesmo assim, a Casa do Douro insiste em protestar, até porque, para além das alterações na distribuição do benefício e a inexistência de preços indicativos no comunicado de vindima - o que deixa os produtores nas mãos do comércio, que paga o que bem entender - o organismo que representa a lavoura perdeu a conta produtores para o IVDP. Era através desta conta que as empresas pagavam aos produtores as uvas adquiridas. Como envolvia montantes elevados, a conta dava poder negocial à Casa do Douro perante a banca e permitia-lhe controlar os preços praticados.Para o comércio, pelo contrário, a negociação alcançada em sede do Conselho Interprofissional é encarada como a "mais responsável", perante as actuais condições do mercado. George Sandeman, da Associação das Empresas Exportadoras de Vinho do Porto, não deixou, porém, de criticar a "atitude pouco séria de várias pessoas do lado da produção", que alteraram a sua posição depois de uma sucessão de encontros em que a negociação do próximo comunicado de vindima foi sendo debatido."Pela nossa parte, estamos satisfeitos com o resultado", declarou George Sandeman, notando que o principal objectivo do comércio é "criar condições de estabilidade" para o futuro do negócio. Aplicando a famosa máxima que deixa "os prognósticos para o fim do jogo", este responsável entende que o quantitativo de benefício autorizado constituiu o valor mais ajustado para as actuais condições do mercado mundial. "A economia do mundo não está muito positiva", recorda.Segundo explicou ao PÚBLICO o presidente do IVDP, o quantitativo de benefício foi estabelecido em funções de projecções - "que tem necessariamente um risco associado", notou - de um equilíbrio entre a procura normal do mercado, os "stocks" existentes e a sustentação do preço da próxima vindima. "As 126 mil pipas de mosto com benefício correspondem à reposição no comércio dos "stocks" com base nas vendas do ano até 31 de Julho", esclareceu. Para debater o comunicado de vindima, o Conselho de Viticultores do Douro vai reunir na próxima quarta-feira, dia para o qual se anuncia uma manifestação de protesto da lavoura duriense, patrocinada pela Casa do Douro.