Decretado dia de luto nacional pela morte de Carlos Paredes

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"Por proposta do primeiro-ministro, o Governo decretou um dia de luto nacional pela morte de Carlos Paredes", referiu fonte do gabinete de Pedro Santana Lopes, que já se deslocou à Basílica da Estrela, em Lisboa, onde o corpo do músico se encontra em câmara ardente até às 14h30 de amanhã. Uma hora depois realiza-se o funeral no Cemitério dos Prazeres.

Pai de seis filhos, Carlos Paredes sofria de mielopatia, uma doença degenerativa que lhe foi diagnosticada em Dezembro de 1993. Impedido de tocar guitarra, o músico ficou internado desde então na Fundação-Lar Nossa Senhora da Saúde, em Campo de Ourique, Lisboa. Depois de onze anos de luta contra a doença, acabou por morrer às 05h45 de hoje.

Apesar da debilidade física impedir a criação na última década de vida, Carlos Paredes deixa uma herança musical única aos portugueses. Desde o primeiro disco, a que chamou simplesmente "Carlos Paredes", gravado em 1957, até bandas sonoras para filmes como "Verdes Anos", de Paulo Rocha, em 1962, ou "Fado Corrido", de Jorge Brum do Canto, em 1964, ou "Guitarra Portuguesa", o seu primeiro álbum, gravado com Fernando Alvim à viola, em 1967, a sua música é reconhecida de imediato, como sublinhou a sua mulher, Luísa Amaro.

A genialidade e sensibilidade de Carlos Paredes

"Portugal teve no Carlos Paredes a genialidade, sensibilidade, poder de composição, uma belíssima técnica, e interpretação. Ele cumpriu os pontos que tinha a cumprir nesta passagem pela Terra", disse a sua companheira dos últimos 20 anos, lembrando ainda o homem "muito bom e muito simples", que deu uma contribuição muito importante para a cultura portuguesa.

Também o poeta e deputado socialista Manuel Alegre, que em 1975 assinou com Carlos Paredes "É preciso um país", um trabalho com poemas lidos acompanhados à guitarra, sublinhou "a vertente humana" do homem que "universalizou a guitarra portuguesa".

Para o musicólogo Rui Vieira Nery a música e a personalidade artística de Paredes "impõem-se por si próprias". Na sua música confluem várias influências, ainda segundo o musicólogo, "mas sempre com uma matriz portuguesa", de acordo com o guitarrista António Chaínho.

Fernando Alvim, acompanhante de Carlos Paredes de 1959 a 1984, afirmou que "a música de Paredes reflectiu muito o amor que tinha ao país".

"Carlos Paredes é, para mim, uma referência humana e cultural, juntamente com Adriano Correia de Oliveira, representa o melhor que há de nós em termos humanos e culturais", homenageou, por sua vez, o fadista Carlos do Carmo.

O Presidente da República, Jorge Sampaio, lembrou o "cidadão exemplar e homem bom" e a obra de um "artista genial", "que tanto projectou o nosso país".

A ministra da Cultura, Maria João Bustorff, enfatizou, por seu turno, "o universo de emoções" que é a música de Paredes "que em muito transcende as fronteiras" portuguesas.

Lutador pela liberdade e pela democracia, o génio da música portuguesa foi preso pela PIDE, que o manteve enclausurado durante dois anos. O PCP, partido do qual Paredes era membro desde 1958, lembra "a grande dimensão humana" do músico.

O mestre da guitarra portuguesa Carlos Paredes morreu com "a tranquilidade de quem sabe que está com a missão cumprida", afirmou Luísa Amaro.

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