Perfil de Durão Barroso



José Manuel Durão Barroso, que hoje foi confirmado pelo Parlamento Europeu como sucessor de Romano Prodi na presidência da Comissão Europeia, nasceu em Lisboa a 23 de Março de 1956 e é tido como uma pessoa "fria, calculista, formal e racional" na forma como vê a política.

O momento decisivo para enveredar pela política ocorreu a 25 de Abril de 1974 - dia que considera o "mais importante" da sua vida - quando assistiu à revolução em pleno Largo do Carmo, local simbólico da queda do antigo regime.

Já estudante do curso de Direito - onde conheceu aquela que é a sua actual mulher, Margarida de Sousa Uva - juntou-se ao MRPP (extrema-esquerda), onde surpreendeu pelos discursos inflamados e radicais, pela invasão das instalações da RTP para explicar o que o opunha ao PCP, e ainda por alguns episódios mais ou menos violentos.

O corte com o passado ocorreu em 1977, ano da morte do seu pai.

Mudou-se para Genebra e Washington, onde prosseguiu os seus estudos académicos.

Em Dezembro de 1980, pouco tempo depois da morte do então primeiro-ministro e fundador do PPD-PSD, Francisco Sá Carneiro, tornou-se militante social-democrata pela mão do actual primeiro-ministro, Pedro Santana Lopes, cuja amizade remonta aos tempos de estudante.

O regresso a Portugal ocorreu já durante os governos de Cavaco Silva, primeiro como secretário de Estado adjunto do ministro da Administração Interna (aos 29 anos de idade), depois como secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação (aos 31 anos) e, por fim, como ministro dos Negócios Estrangeiros (com 36 anos).

Nesses dez anos de governação cavaquista, Durão Barroso foi-se aproximando de Cavaco Silva, tornando-se num dos seus "delfins".

Pelo meio, as rivalidades e ambições de Durão Barroso e Santana Lopes ditaram o fim de uma longa amizade, retomada em 2001, quando o actual primeiro-ministro concorreu à Câmara de Lisboa nas eleições autárquicas, ganhando a batalha.

De volta a Washington, Durão assistiu de longe ao nascimento da Alternativa Democrática (AD) - levada a cabo pelos líderes do PSD e CDS/PP, Marcelo Rebelo de Sousa e Paulo Portas - da qual discordou liminarmente no Congresso de Tavira (1998), repetindo as suas posições no conclave do Porto, em 1999.

Quando a AD de Marcelo e Portas chegou ao fim, nesse mesmo ano, já Durão Barroso era visto no PSD como o "salvador do partido".

A liderança do partido cai-lhe nas mãos no congresso de Coimbra, em 1999, e a vitória repetiu-se em 2000, quando venceu Santana Lopes e Marques Mendes, seus adversários à presidência dos sociais-democratas.

Desde essa altura e até 2002, as críticas internas do PSD à liderança de Durão Barroso tornaram-se diárias, com vários dirigentes a acusarem-no de ser "fraco" e a duvidarem da sua capacidade de conseguir conduzir o partido de volta ao Governo (liderado, na altura, pelo socialista António Guterres).

A reviravolta ocorreu nas eleições autárquicas de 2001, quando a derrota do PS levou António Guterres a demitir-se do Governo, levando o Presidente da República, Jorge Sampaio, a convocar eleições legislativas antecipadas.

A 17 de Março de 2002, o PSD ganhou as legislativas, tornando-se realidade a frase que um ano antes Durão Barroso tinha proferido numa entrevista: "Sei que vou ganhar, só não sei quando".


A vitória do PSD nas legislativas, embora sem maioria absoluta, levou Durão Barroso a negociar uma coligação governamental com o CDS/PP de Paulo Portas, que permitiu a formação do actual Executivo.

Dois anos depois, o discurso da crise económica e das acusações de fuga ao anterior Governo que marcaram a primeira parte do mandato de Durão Barroso começaram a ser substituídos pelo discurso da confiança na retoma económica, e pela promessa pública de que o Governo PSD/CDS-PP seria para duas legislatura".

Depois de pouco mais de dois anos como primeiro-ministro, Durão Barroso - que fala fluentemente francês e inglês - transpôs o último obstáculo para se tornar presidente da Comissão Europeia e prepara-se para iniciar um novo capítulo da sua vida, agora em Bruxelas.

Durão Barroso eleito presidente da Comissão Europeia

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Durão Barroso viu confirmado o que já se esperava Christian Hartmann/EPA

A eleição de Durão Barroso terá sido possível com os votos dos eurodeputados do grupo dos liberais democratas do Parlamento Europeu, que anunciaram hoje o apoio da "esmagadora maioria" à nomeação de Durão Barroso.
"Votamos pela Europa, não pelo senhor Barroso. Vai receber o apoio da esmagadora maioria dos liberais democratas desta casa", afirmou o presidente do grupo, Graham Watson, em plenário.

Estes votos juntaram-se aos 268 eurodeputados do Partido Popular Europeu e dos 27 da União para a Europa das Nações.

O total destes três grupos ascende a 383 eurodeputados, mais de metade dos que têm lugar no hemiciclo europeu (732) e, mesmo que nem todos tenham votado a favor, Barroso terá contado com o apoio de alguns socialistas que não quiseram expressar-se contra os seus próprios governos, como os espanhóis e os britânicos.

O grupo do Partido Socialista Europeu anunciou o seu voto contra, mas respeitará as delegações que "lhe dêem (a Barroso) a sua confiança".

Os 12 eurodeputados do PS português, que afirmaram não querer inviabilizar o nome de Barroso para o cargo, votaram "de acordo com a sua consciência", disse à Lusa fonte da delegação.

Nas últimas intervenções antes da votação, os Verdes (42 eurodeputados), a Esquerda Unida (41) e os eurocépticos (33) reafirmaram o seu voto contra Barroso, enquanto os 33 deputados não inscritos (que não estão em qualquer grupo político) anunciaram a sua abstenção.