Pinto Balsemão, primeiro-ministro não eleito
Quando, em 4 de Dezembro de 1980, Francisco Sá Carneiro morre na queda do avião em Camarate, em plena campanha eleitoral para as eleições presidenciais que se realizaram a 7 de Dezembro, o lugar de primeiro-ministro é preenchido por Francisco Pinto Balsemão.A nomeação é feita pelo Presidente da República, António Ramalho Eanes, que tinha então sido reeleito e a indicação do nome de Balsemão foi feita em Conselho Nacional do PSD. Eanes optou por não realizar eleições antecipadas. Para isso contribuiu certamente o facto de as legislativas terem decorrido apenas há dois meses, a 5 de Outubro de 1980, e nas urnas, com 44,91 por cento, tinha saído vitoriosa a Aliança Democrática, coligação pré-eleitoral formada pelo PSD, o CDS e o PPM.O primeiro governo Balsemão recebe o apoio dos membros da coligação, se bem que Freitas do Amaral não tenha aceite integrá-lo - fará parte apenas do segundo governo Balsemão (4 de Setembro de 1981 a 23 de Dezembro de 1982). O nome de Balsemão, fundador do partido, saiu de uma votação em Conselho Nacional, realizado a 13 de Dezembro de 1980, ou melhor de duas votações realizadas nesse dia. Na primeira é eleito presidente do partido com 59 votos a favor, um contra e um em branco.Na segunda votação, Balsemão é indigitado pelo Conselho Nacional para primeiro-ministro com 55 votos a favor, dois contra, três em brancos e um nulo. A alternativa interna era então Eurico de Melo, personalidade do PSD que irá ser a referência de proa do grupo de militantes e dirigentes que irão ao longo de meses fazer oposição a Balsemão e à estratégia da Aliança Democrática e onde pontuam figuras como Helena Roseta e Cavaco Silva, sendo que este último, que fora ministro das Finanças de Sá Carneiro, nem sequer aceita integrar o Governo.Balsemão é empossado primeiro-ministro a 9 de Janeiro de 1981 e toma posse o VII Governo Constitucional. A 22 de Janeiro, a par da apresentação do programa de Governo, era aprovada no Parlamento uma moção de confiança no novo Governo.Em Fevereiro, o PSD realiza o seu congresso e é formalizada em reunião magna a indigitação de Balsemão como presidente do partido e logo também como primeiro-ministro. Só que esse congresso não significa a pacificação do partido. A oposição interna, ou seja a linha Eurico de Melo, recusa integrar o poder e subir à vice-presidência. Mas elege um terço dos membros do Conselho Nacional. Estes lugares de direcção são ocupados por próximos de Balsemão como Carlos Macedo, Fernando Amaral, Ângelo Correia e Mário Raposo. A força da oposição interna consubstancia-se em Abril seguinte, quando Helena Roseta é eleita presidente da distrital de Lisboa e Cavaco Silva da assembleia distrital de Lisboa do PSD. No Verão o Governo sofre uma mini-remodelação de três pastas, mas não é suficiente. Mantém-se a instabilidade e dentro do PSD há quem ache que a remodelação foi pequena.Em Lisboa, a assembleia distrital presidida por Cavaco aprova a moção considerando que a liderança de Balsemão é "cinzenta e frouxa". Balsemão chama "grupo de oposição" aos dirigentes de Lisboa. Aumentam as críticas internas ao predomínio do CDS na elaboração da linha política da AD. O vice de Balsemão, Ângelo Correia diz que Roseta e Cavaco são necessários ao partido e que o Governo precisa de nova dinâmica, imagem e coordenação. Segue-se a ruptura de outro vice de Balsemão, é a vez de Mário Raposo bater com a porta e demitir-se. As relações com Carlos Macedo deterioram-se.Às 2 horas da manhã de 10 de Agosto depois de um agitado Conselho Nacional, Balsemão é confirmado com 57 votos a favor e 15 contra. Mas este não aceita e demite-se para, a 4 de Setembro de 1981, ser de novo empossado primeiro-ministro por Eanes. Afinal, havia uma maioria parlamentar baseada num acordo pré-eleitoral e, apesar da turbulência interna se ter mantido no PSD até ao fim deste VIII Governo (23 de Dezembro de 1982), o que era facto é que a maioria do PSD continuou a apoiar Balsemão. Ainda que a legislatura não tenha sido cumprida na integra dos quatro anos e Eanes tenha sido obrigado a convocar eleições antecipadas para 25 de Abril de 1983. Mas essa já é outro episódio da história.