Filarmónica de Munique no encerramento do ciclo Grandes Orquestras Mundiais
Um dos grandes acontecimentos da temporada Gulbenkian, o último concerto do ciclo Grandes Orquestras Mundiais, com a Filarmónica de Munique, tem sido objecto de várias alterações de última hora. Primeiro foi a mudança de programa. Depois soube-se que James Levine (maestro titular até ao Verão de 2004, altura em que transita para a Sinfónica de Boston) não iria prosseguir a digressão devido a problemas de saúde. Assim o concerto desta noite no Coliseu de Lisboa, que será também uma homenagem ao administrador da Fundação Gulbenkian, José Blanco, terá a direcção do russo Andrey Boreyko, considerado pela crítica internacional como uma das grandes revelações musicais da Europa de Leste nos últimos anos. Quanto ao programa, em vez da Sinfonia nº 7, de Mahler, será preenchido com a abertura da ópera "Rienzi", de Wagner; a Suite nº 2 do bailado "Daphnis et Chloé", de Ravel; e a Sinfonia nº 1, de Brahms.Muito menos conhecido do grande público do que o mediático director do Metropolitan de Nova Iorque, Andrey Boreyko tem, no entanto, um currículo muito respeitável e tem acumulado sucessos nos últimos anos à frente de formações tão importantes como Orquestra Real do Concertgebouw de Amesterdão, a Sinfónica de Chicago ou a Philarmonia Orchestra. Nascido em São Petersburgo, Boreyko estudou composição e direcção de orquestra no Conservatório Rimski-Korsakov. Depois de ter sido maestro associado principal da Orquestra Nacional Russa, e de ter dirigido durante quatro anos a Filarmónica de Poznan (Polónia), foi nomeado maestro titular da Filarmónica de Jenaer (Alemanha), em 1998 - o que lhe valeu o prémio da crítica alemã pela programação mais inovadora durante três temporadas consecutivas -, e maestro convidado principal da Sinfónica de Vancouver. Em 2001/02 tornou-se director musical da Winnipeg Symphony Orchestra e, em 2004, maestro principal da Orquestra Sinfónica de Hamburgo. Boreyko tem dado grande atenção à música contemporânea, sobretudo de compositores do Leste, tendo dirigido obras de Sofia Gubaidulina, Gija Kantsheli, Leonid Desyatnikov, Henrik Gorecki, Arvo Pärt, Alexander Raskatov e Valentin Silvestrov. A sua discografia inclui páginas de Ginastera, Bloch, Silvestrov e Takemitsu, este último gravado com Gidon Kremer e a Deutsches Symphonie Orchester Berlin. Quanto à Filarmónica de Munique não precisa de grandes apresentações. Com mais de um século de existência (foi fundada em 1893 por iniciativa do filólogo Franz Kaim, filho de um constructor de pianos), é uma das mais notáveis orquestras europeias, tendo sido dirigida por personalidades como Felix Weingartner, Mahler, Bruno Walter, Eugen Jochum, Rudolf Kempe ou Serguiu Celibidache. O próximo titular será Christian Thielemann, que abrirá o ciclo Grandes Orquestras Mundiais do próximo ano, à frente da Orquestra da Ópera de Berlim. No concerto de hoje será possível apreciar a versatilidade desta formação e do maestro Andrey Boreyko em obras de carácter muito diverso: a abertura de uma das primeiras óperas de Wagner ("Rienzi"), que foi também um dos primeiros sucessos do compositor e que anuncia já alguns dos elementos do seu estilo da maturidade; a Suite nº 2 do bailado "Daphnis et Chloé", de Ravel, uma obra de um refinamento e imaginação orquestral extremas no que diz respeito ao domínio do ritmo e da cor e que faz a síntese das principais qualidades do compositor (o sentido da dança, o desenvolvimento de uma acção, a observação da natureza, um lirismo umas vezes apaixonado, outras contido...); e a Sinfonia nº 1, de Brahms, que teve uma gestação de quase 20 anos tal era o peso da responsabilidade que o compositor sentia em relação à herança de Beethoven e que, como tal, insere traços da linguagem romântica numa linha de continuidade face à tradição do classicismo.Orquestra Filarmónica de MuniqueAndrey Boreyko (direcção)LISBOA Coliseu dos Recreios. Hoje, às 21h. Bilhetes entre 15 e 55 euros.