Novo livro do Ippar identifica 250 obras de arquitectura moderna
Quando o arquitecto Nuno Portas, há mais de 40 anos, iniciou uma rubrica sobre o património moderno na revista "Arquitectura", queria impedir a destruição da famosa Casa Honório de Lima, feita por Viana de Lima no Porto, e o Hotel Vitória, feito por Cassiano Branco em Lisboa. Se a primeira casa, radicalmente moderna, não foi salva, já o hotel foi recuperado há 15 anos pelo Partido Comunista, que faz dele a sua sede na Avenida da Liberdade.A história foi contada pela arquitecta Ana Tostões, que anteontem ao final da tarde apresentou na sede da Ordem dos Arquitectos, Lisboa, o livro "Arquitectura Moderna Portuguesa, 1920-1970", para dizer que "há outra maturidade" desde esse momento em que "pela primeira vez a arquitectura moderna era reivindicada como património". O livro é um inventário da mais importante arquitectura moderna portuguesa, uma encomenda feita pela anterior direcção do Instituto Português do Património Arquitectónico (Ippar).A equipa que Ana Tostões coordenou conseguiu fazer o rastreio de cerca de 250 obras, que dá ao Ippar um primeiro instrumento para a preservação do património arquitectónico do século XX. O presidente do Ippar, João Rodeia, já iniciou o processo de classificação de algumas obras consideradas ameaçadas, como as Piscinas de Leça, feitas por Siza Vieira. O objectivo é fazer a classificação sistemática do património do século XX, "projecto que este trabalho vai sustentar". "Há o mesmo tipo de preocupação para a arquitectura da segunda metade do século XIX, para a arquitectura paisagista e para a arquitectura da arqueologia", disse o presidente do Ippar.Apesar de o livro tratar em fichas individuais apenas 51 obras, Ana Tostões diz que noutros capítulos, como a cronologia e a última parte dedicada aos dez temas da modernidade, se encontram muito mais obras, pois houve a preocupação de dar ao Ippar um levantamento o mais alargado possível. Como o livro partiu de uma exposição itinerante, que quis levar a problemática da conservação do património moderno a vários pontos do país, o núcleo principal teve que ser mais reduzido. Houve também a preocupação de não repetir pesquisas anteriores, como a feita em "Arquitectura do Século XX - Portugal", remetendo obras fundadoras como a Casa Eng. Lino Gaspar em Caxias, de João Andresen (a capa do livro), e a sede da Fundação Gulbenkian, de Athouguia, Cid e Pessoa, para os capítulos paralelos ao inventário propriamente dito."Cinquenta das obras estão tratadas com algum fôlego. Não são obrigatoriamente as melhores. Houve a preocupação de descentralizar, procurar o moderno na província, e incluir a arquitectura industrial, que é a matriz do moderno", explicou Ana Tostões. Por isso, a primeira obra do inventário não é um dos edifícios que arquitectos como Porfírio Pardal Monteiro e Carlos Ramos desenharam depois da I Guerra Mundial (1914-18), mas o complexo que as Oficinas Gerais de Material Aeronáutico começaram a construir em Alverca em 1926. É muito curioso o Hangar Geodésico do Balão, concebido para reparar aeronaves. "É um exemplo de como a forma e a construção respondem de uma forma imediata à função", explica Tostões, acrescentando que o interior desta estrutura abobadada em madeira é uma espécie de "andaime permanente".Este é o segundo volume da colecção "Património Moderno", que segundo Miguel Soromenho, do Departamento de Estudos do Ippar, tem como objectivo a publicação de estudos e levantamentos sobre arquitectura moderna. O tema do próximo volume ainda não está definido."Arquitectura Moderna Portuguesa, 1920-1960"Coordenação científica de Ana TostõesAutor: VáriosEdição Ippar391 pags.; 38 euros