Sabor abre debate sobre necessidade de reserva estratégica no Douro
Criar uma reserva estratégica de água no Douro, tanto para influenciar os caudais do rio como para aproveitamento energético, é a principal justificação do Sabor. Especialistas ouvidos pelo PÚBLICO concordam na necessidade crucial do armazenamento, mas há quem diga que seria preferível fazê-lo de outra forma.A construção do aproveitamento hidroeléctrico do Baixo Sabor vai tornar Portugal um pouco menos dependente de Espanha na gestão da bacia do rio Douro. Este é, de resto, o grande argumento invocado pela EDP para justificar o empreendimento, conforme explicou Seca Teixeira, director de planeamento da Companhia Portuguesa de Produção de Electricidade, a empresa que vai construir e gerir a barragem. "Sempre dissemos que, em relação à cascata de aproveitamentos do Douro, estamos totalmente dependentes da gestão espanhola. Com o Baixo Sabor, que terá uma capacidade de armazenamento útil de 630 hectómetros cúbicos, ficaremos mais independentes", disse aquele responsável.Cerca de 40 por cento dos caudais do Douro são gerados em território português - o equivalente, em média, a 8350 hectómetros cúbicos de água por ano -, mas a capacidade de armazenamento útil existente é de apenas 300 hectómetros cúbicos. Pelo contrário, Espanha, só junto à fronteira, possui barragens para armazenar 3800 hectómetros cúbicos de água (Rycobayio, no rio Esla, com 1150 hectómetros cúbicos, e Almendra, no rio Tormes, com 2650 hectómetros cúbicos). Responder aos picos, evitar "apagões"É nestes dois aproveitamentos que tem assentado a regularização dos caudais do Douro e a produção de energia eléctrica, já que as barragens existentes no troço português são todas de fio-de-água, com uma diminuta capacidade de retenção. A importância da cascata do Douro advém da capacidade de responder a picos de consumo de electricidade. Em Dezembro de 2001, Espanha evitou um "apagão" após ter recorrido à electricidade produzida nos aproveitamentos do Douro português. Por acordo com a Rede Eléctrica Nacional, Espanha libertou água armazenada nas barragens de Almendra e Rycobayo e Portugal devolveu a electricidade que foi sendo produzida ao longo da cascata. Tomando este caso como exemplo, Seca Teixeira advoga que o Sabor será importante sobretudo pela gestão que permitirá fazer "nos momentos difíceis". "Funcionará como um volante", ilustra Pedro Serra, presidente da Comissão de Avaliação de Impacte Ambiental. Ou seja, "o sistema electro-produtor tem de produzir na mesma medida dos consumos e o Sabor pode regular a produção, alimentando toda a cascata quando há um pico". A barragem, por si só, tem uma produção reduzida - 150 megawatts - mas "dá garantias para a produção de 700 megawatts ao longo da cascata", adianta este responsável.Mas dada a distância a que estão as barragens umas das outras, o tempo que leva a água a chegar até à última albufeira da cascata não será demais para responder aos picos? "Essas situações prevêem-se, não se reage no último minuto", responde, por seu lado, Oliveira Fernandes, professor no Departamento de Engenharia Civil da Universidade do Porto, que ressalva que, por enquanto, Portugal apenas tem picos no Inverno, que são fáceis de resolver face à disponibilidade de água nos rios.Para este especialista em eficiência energética, uma das principais vantagens desta barragem será a sua reversibilidade, isto é, a sua capacidade de rebombar água para a albufeira, servindo assim de armazenamento energético. "Pode-se usar a energia produzida pelas eólicas durante a noite, quando não é utilizada, para recarregar a bacia da barragem superior", explica. Ou seja, a energia eólica é "transformada" em água que volta, quando necessário, a ser "transformada" em energia, no caso hídrica.