Proteja Os Olhos




Para observar o trânsito de Vénus deve utilizar os óculos especiais com filtros de protecção ocular, disponíveis nas farmácias, e mesmo assim por curtos períodos de tempo. Se usa óculos, deve colocar os de protecção por debaixo dos habituais de ver. Mas a opção mais segura é seguir o trânsito de Vénus atravês da Internet ( http://www.oal.ul.pt/vt2004 ), ou usar outros métodos de observação indirecta, como pela televisão ou dirigindo-se a um local onde haja observações coordenadas por pessoas qualificadas, sugere a Direcção-Geral de Saúde.

A exposição dos olhos à luz solar pode provocar graves lesões na visão, porque os olhos são particularmente sensíveis à acção dos raios solares, tanto ultravioleta como infravermelhos, que lesam a retina - a camada nervosa dos olhos que comanda a visão e a função visual.

A retina pode, assim, ser "queimada" por uma reacção química, tal como acontece com a pele quando em contacto com a cal, levando a perturbações da visão, transitórias ou definitivas, que podem ir da diminuição da acuidade visual até à cegueira total.

Por isso, há uma série de coisas que não se devem fazer, de maneira nenhuma:

Não se devem usar óculos escuros para olhar para o Sol;

Não se devem usar os filtros solares fornecidos pelos fabricantes de telescópios e binóculos para colocar na ocular do aparelho,

Não usar negativos de fotografias;

Não usar discos de CD para olhar para o Sol

Não usar óculos especiais de protecção ocular que já tenham sido utilizados ou que estejam guardados, porque podem ter microfuros, arranhões ou imperfeições que deixem passar mais radiação do que a permitida.

Estão a funcionar várias linhas telefónicas de emergência que dão apoio à observação do fenómeno: a Linha Saúde Pública (808 211 311), a da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia (21 84 27 133), e a do Instituto de Oftalmologia Doutor Gama Pinto (21 35 53 069).




Locais de Observação


Há vários locais onde com iniciativas para a observação do fenómeno astronómico do trânsito de Vénus. Algumas das aqui citadas integram a rede criada para este efeito nos vários países europeus pelo Observatório Europeu do Sul (ver http://www.vt2004.org./ ), outras não.

Seja como for, esta lista não pretende ser exaustiva. As sessões começam, geralmente, por volta das 6h00 e prolongam-se até ao meio-dia.

NORTE

Visionarium-Centro Ciência Viva do Europarque

Com a presença de Luís Tirapicos

Centro Multimeios de Espinho

Organização conjunta com o Centro de Astrofísica da Universidade do Porto

CENTRO

Associação de Física da Universidade de Aveiro (FISUA)

Observatório Astronómico de Mira

Exploratório Infante D. Henrique (Coimbra)

Centro Ciência Viva de Constância

SUL

Observatório Astronómico de Lisboa

A sessão inclui palestras de esclarecimento e será transmitida em directo na Internet, a partir do endereço http://www.vt-2004.org/central/ .

Pavilhão do Conhecimento em Lisboa

Com a presença de Nuno Crato e Fernando Reis a partir das 11h00

Marina de Cascais

(terraço da loja 20)

Organizado pelo Núcleo interactivo de Astronomia (Nuclio), com o apoio da Câmara Municipal de Cascais, contará com a presença de astrónomos profissionais e amadores

Centro Ciência Viva do Algarve

MADEIRA

Grupo de Astronomia da Universidade da Madeira



Todos a postos para o trânsito de Vénus

Foto
Vénus não deve ser visto sem protecção dos óculos vendidos nas farmácias Federico Gambarini/EPA

Até 5 de Outubro de 1995, todos os planetas que se sabiam existir no Universo eram os do nosso sistema solar. Mas desde então, o lugar único de Mercúrio, Vénus, Terra, Marte, Júpiter..., e por aí fora, nunca mais foi o mesmo, com a descoberta de mais planetas em órbita de outras estrelas.

Tornou-se oficial: os planetas do nosso sistema solar não são os únicos do Universo. Havia pelo menos um planeta a 40 anos-luz de distância da Terra, em redor da estrela Pégaso 51. Foi descoberto de forma indirecta, através de pequenas oscilações da estrela, para trás e para a frente, sob o efeito da gravidade do planeta. Mas em 1999 sucedeu algo extraordinário: viu-se um planeta a passar diante da estrela, roubando-lhe um pouco de brilho. Essa foi a primeira vez que se detectava um planeta de forma directa.

Havia, a partir daí, duas técnicas de detecção de planetas extra-solares, ou exoplanetas, como se chama a estes mundos que orbitam outras estrelas. Uma dessas técnicas é demonstrada hoje, a milhões de pessoas, quando Vénus passar diante do Sol.

A técnica dos trânsitos para detectar planetas extra-solares consiste na medição continuada do brilho de uma estrela para tentar observar se diminui. Isso poderia revelar que um planeta ou outra estrela passava à sua frente. Os habitantes da Terra só podem ver o trânsito de Vénus e de Mercúrio pelo disco solar, pois são os únicos planetas entre a Terra e o Sol.

Mas no nosso sistema solar dão-se outros trânsitos, como é o caso sempre que as quatro grandes luas de Júpiter - Io, Europa, Calisto e Ganimedes - passam à frente daquele planeta, o maior do nosso sistema solar. Como as luas de Galileu - assim chamadas porque foi ele quem as descobriu, no século XVII - orbitam Júpiter em apenas alguns dias, este fenómeno é frequente, explica o boletim do Observatório Astronómico de Lisboa (OAL). Mas a observação destes trânsitos não é fácil, porque o disco de Júpiter é muito brilhante e ofusca a luz dos seus satélites naturais. Só quando passam em zonas mais escuras de Júpiter se vê o fenómeno.

Ora, foi a técnica do trânsito que, em 1999, tirou as dúvidas aos cépticos sobre a detecção de planetas extra-solares, como conta o astrofísico Alfred Vidal-Madjar numa entrevista publicada no livro "Estaremos Sozinhos no Universo?" (Âncora Editora).

Antes disso, ainda nesse ano, esse planeta fora descoberto à volta de uma estrela amarela parecida com o Sol, chamada HD 209458, na direcção da constelação de Pégaso. Essa detecção fizera-se como até aí os cientistas detectavam planetas extra-solares, incluindo a equipa dos Michel Mayor e Didier Queloz, do Observatório de Genebra, a quem coube a descoberta histórica de 5 de Outubro de 1995 - pelo método das velocidades radiais, que mede as variações na velocidade de uma estrela causadas pelo efeito gravitacional de um planeta. Se a velocidade e a posição da estrela oscilarem periodicamente, quer dizer que terá um corpo à volta, e poderá ser um planeta.

"Um planeta, encontrado em volta da estrela HD 209458, foi detectado de forma indirecta por diversas equipas de observadores, e depois foi captado de novo, de forma directa, quando passou diante da estrela, a 9 e 16 de Setembro de 1999, exactamente no momento em que era esperado", relata Vidal-Madjar. Podia-se passar a usar um novo método para detectar planetas extra-solares.

Conhecem-se agora mais de 120 planetas extra-solares, entre os quais quatro observados pelas duas técnicas. A conjugação de métodos pode dar informações preciosas sobre estes mundos gasosos e gigantes.

A técnica dos trânsitos dá uma ideia do raio do objecto a passar defronte da estrela e do tempo que leva a completar uma volta, mas tem limitações, explica o astrofísico Nuno Santos, do OAL, que fez o doutoramento sobre planetas extra-solares sob a orientação de Michel Mayor. Aos 30 anos, continua a colaborar com a equipa de Genebra e assim já participou, desde 1998, na descoberta de cerca de 50 planetas.

Como limitações, o astrofísico português refere que o método dos trânsitos não permite dizer o que é e não é um planeta, porque uma estrela muito pequena e um planeta muito grande parecem ter o mesmo tamanho. A técnica das velocidades radiais, no entanto, permite determinar a massa e dizer se é uma estrela, um planeta ou outro objecto.

Juntando as duas técnicas, pode detectar-se um corpo em órbita de uma estrela, confirmar-se que é um planeta, ou não, e até estudá-lo: por exemplo, saber a sua densidade. Por isso, em relação aos quatro planetas observados com as duas técnicas, há dados mais pormenorizados sobre a distância a que estão da estrela, a massa, o raio e a densidade média.

Mas mesmo com as duas técnicas, só se conseguem detectar planetas monstruosos feitos de gases, como Júpiter ou ainda maiores, e que estão na Via Láctea, a nossa galáxia - de maneira geral, estão todos próximos da Terra, a algumas centenas ou milhares de anos-luz de distância (o tempo que a luz que emitem, a viajar a 300 mil quilómetros por segundo, demora a chegar cá).

Será que na vastidão do Universo não há planetas mais pequenos, como a Terra e Marte, que são telúricos e têm uma superfície dura? Esse é o próximo passo da exploração de novos mundos, que, entre outras perguntas, desde logo levantaram a interrogação de sabermos se terão alguma forma de vida.

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