Duke Ellington, o "gentleman" do jazz
Em 1999, aquando do centenário do seu nascimento, por toda a parte no Mundo se falou da história de um dos grandes senhores do jazz, de quem Herbie Hancock uma vez disse que "merece, por direito próprio, tanta ou mais atenção do que George Gershwin". Faz hoje precisamante 30 anos que o compositor, pianista e chefe de orquestra americano Duke Ellington (1899-1074) faleceu.A efeméride já foi pretexto, este ano, para a reedição de discos, nomeadamente os álbuns "Masterpieces by Ellington", "Ellington Uptown" e "Festival Session". E, esta noite, o canal francês Mezzo (distribuído entre nós pela TV Cabo) dedica a sua programação ao músico, com a emissão de dois concertos.Os eventos não são muitos, mas nunca é muita a atenção que se pode dispensar a Duke Ellington.Nascido a 29 de Abril de 1899, na capital dos Estados Unidos, Washington, D.C., Edward Kennedy Ellington foi apelidado de "Duke" (duque) antes de se transformar numa figura nobre do jazz. Um colega deu-lhe a alcunha pelas suas boas maneiras e jeito elegante, herança da família burguesa que também lhe fomentou o gosto pela música. Os seus pais acreditavam que, pela educação e cultura, um negro podia ser aceite como igual pela sociedade branca. A consciência da cultura negra americana esteve sempre presente na sua música.O piano surgiu quando tinha apenas sete anos, mas, na altura, Ellington preferia o basebol. Estudou artes (tinha particular jeito para o desenho e pintura) e foi na adolescência, quando ouviu o pianista Harvey Brooks, que decidiu o que ia fazer na vida. "Disse para mim próprio: 'Tens que fazer isto'", contou. Estreou-se como músico profissional aos 17 anos."The Duke's Serenaders" e "The Washingtonians" foram as primeiras formações que criou. Mudou-se aos 23 anos para Nova Iorque - onde iria viver o resto da sua vida - e, de concerto em concerto, por vários clubes, chegou ao Cotton Club, onde começou a verdadeira fama.Quando morreu, a 24 de Maio de 1974, "The Duke" tinha feito pelos quatro continentes do globo 20 mil apresentações ao vivo e gravado 1200 composições. "Black beauty", "Moon indigo", "It don't mean a thing (if it ain't got that swing)", "Sophisticated lady", "I got it bad (and that ain't good)", "Do nothin' till you hear from me", "Harlem" ou "Satin doll" foram algumas das canções que se tornaram "standards" da história do jazz. "Black, brown and beije" foi uma das suas melhores suites, que subtitulou de "A tone parallel to the history of the negro in america". Uma dinastia de músicosNuma época em que não era fácil ser uma personalidade negra, Ellington conseguiu criar um estilo de trabalho único e revolucionou o jazz. Monk, Mingus, Evans são apenas alguns dos mais famosos que por ele foram influenciados. Uma das coisas pela qual o génio de Ellington foi mais posto em dúvida, e simultaneamente mais louvado, foi a forma como se unia criativamente a outros músicos.Pela sua orquestra passaram intérpretes brilhantes, alguns deixando contribuições verdadeiramente valiosas para o som ellingtoniano. Dessas colaborações surgiram algumas das grandes canções já citadas. Com Billy Strayhorn, Ellington compunha a meias, numa cumplicidade única na história do jazz. "As minhas ideias jorravam na sua cabeça, e as suas na minha", disse Duke Ellington.Johnny Hodges, Sonny Greer, Juan Tizol, Ben Webster, Paul Gonsalves foram alguns dos mais importantes elementos da sua "big band". Duke sabia aproveitar as boas ideias dos bons músicos, e parecia ter o dom de descobrir e melhor utilizar os talentos. Talvez com o mesmo espírito, Ellington soube sempre integrar diversos estilos. Gospels, blues, ritmos afro-americanos, tudo tinha lugar nas suas composições. Os bairros americanos, as suas cores, pessoas e cheiros ficaram retratadas na sua música - criou assim o chamado "jungle style". Duke trabalhou com a sua orquestra até morrer. Mercer K. Ellington, o filho, tomou o lugar como chefe de orquestra, cargo que ocupou até ele próprio também falecer. Paul Mercer Ellington, neto de Duke, seguiu a tradição familiar, continuando o trabalho de direcção da Orquestra de Duke Ellington.Sem falar dos "Grammy", que foram muitos, "The Duke" recebeu a mais alta condecoração para um civil nos Estados Unidos - a Medalha Presidencial da Liberdade -, e também foi condecorado na Europa, onde a sua orquestra foi sempre magistralmente acolhida. A sua influência atravessou o Mundo e os tempos, a ponto de se tornar difícil imaginar a história do jazz sem a sua existência.