"Embalões" dos ecopontos têm 40 por cento de refugo
Cerca de 40 por cento do que está dentro dos contentores amarelos dos ecopontos da região de Lisboa - conhecidos como "embalões" - está a ser encaminhada para a incineração e não para a reciclagem. Em grande medida, a responsabilidade é do próprio cidadão, que está a colocar no contentor (mesmo que involuntariamente) muita coisa que lá não deveria estar. Mas no meio do refugo, há materiais que poderiam ser reciclados.A grande quantidade de refugo representa um trabalho adicional para os funcionários que separam o lixo dos ecopontos, na central de triagem da empresa Valorsul - que trata dos resíduos de Lisboa, Loures, Odivelas, Amadora e Vila Franca de Xira. Os contentores amarelos chegam a trazer 15 por cento de embalagens de cartão, que deveriam estar no "papelão".A matéria que segue para incineração chega aos 40 por cento. Aí está muita coisa que deveria ter sido deitada no caixote do lixo, como papéis sujos com alimentos ou mesmo restos de comida. Mas também há embalagens plásticas que, tecnicamente, podem ser recicladas. Sacos plásticos pequenos, embora reaproveitáveis, não são actualmente recebidos pelos recicladores. Só servem os que são iguais ou maiores do que os sacos de supermercado. Embalagens de iogurte ou "contaminadas" com óleos ou gorduras, também não são aceites.Estas regras estão estabelecidas nos contratos que as autarquias e os sistemas multimunicipais de gestão de lixo fazem com a Sociedade Ponto Verde - criada para assegurar as metas de reciclagem a que a indústria está obrigada. Mas o cidadão comum não sabe disso. Mais ainda, a palavra "embalão" estimula a que se ponha no contentor amarelo tudo o que se julgue ser uma embalagem.A Valorsul reconhece que o sistema tem sido susceptível a confusões. "Temos a consciência de que algo não está a passar, em termos de mensagem", avalia António Branco, presidente da empresa. Através de um inquérito, a Valorsul concluiu que 97 por cento dos cidadãos da sua área de influência acham que vidraças partidas podem ir para o chamado "vidrão". Cerca de 58 por cento também acham que chávenas e pratos quebrados também podem ser lá deitados. Mas tanto vidraças como porcelanas atrapalham a reciclagem, ao invés de ajudá-la.O caso dos plásticos é mais dramático. Pouco mais de metade das pessoas está convencida de que está certo colocar garrafas de óleo e embalagens de iogurte no contentor amarelo. Mas, como estes materiais não são aceites pela Sociedade Ponto Verde, fazem apenas uma passagem pelo centro de triagem, em Lisboa, depois sendo levados para a central de incineração da Valorsul, em Loures, a muitos quilómetros de distância.Isto já causou situações constrangedoras. António Branco refere que os alunos de uma escola, numa visita à incineradora, ficaram surpreendidos por verem um camião a chegar, carregado de embalagens de iogurte, que as crianças julgavam, afinal, recicláveis. A Valorsul está a lançar uma campanha para orientar melhor as pessoas na utilização dos ecopontos. E o chamado "embalão" é o centro das atenções, não só pela elevada taxa de refugo, como pela quantidade de embalagens de cartão que, na verdade, deveriam ir para o papelão. Em bairros-piloto, foram escolhidas pessoas para servirem de exemplo de como se deve separar o lixo. São residentes conhecidos pela vizinhança, que agora ilustram os folhetos e cartazes informativos que serão distribuídos pelo bairro.O objectivo é deixar claro que, no contentor amarelo, só interessam quatro tipos de embalagens: garrafas de plástico, sacos de supermercado ou maiores, latas de bebida ou conserva e pacotes de bebida.A associação ambientalista Quercus, alerta, porém, que muitos materiais deixados de fora podem ser reciclados. De acordo com Rui Berckmeier, do Centro de Informação de Resíduos, já estarão a ser estudadas e testadas, em Portugal, soluções para materiais como as embalagens de iogurte. "A breve trecho estes plásticos vão poder ser reciclados", diz Berckmeier. "Daqui a muito pouco tempo, vão ter de fazer uma campanha ao contrário", vaticina.