Jazz, folk, clássica no concerto de Garbarek no CCB
O saxofonista norueguês volta a Portugal para um concerto no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, com o Jan Garbarek Group. Nos últimos cinco anos, é o que tem feito - tocar ao vivo -, além de participar em gravações de álbuns de outros músicos. Rainer Brüninghaus (piano) e Eberhard Weber (contrabaixo), ambos alemães, e a dinamarquesa Marilyn Mazur (percussão) são os músicos com quem toca há mais de uma década e que o acompanham hoje. "Suponho que podia concentrar-me mais em escrever... Mas gosto de estar em palco. Eu sou um pouco preguiçoso e em palco é impossível ser preguiçoso. É 'agora ou nunca'", diz. Com o seu grupo, Jan Garbarek dá entre 80 a 100 concertos por ano, mas nos últimos anos também tem tocado música clássica com o Hilliard Ensemble."Mnemosyne", de 99, foi o último disco que lançou, uma interpretação com os ingleses Hilliard Ensemble a partir de música sacra e a continuação do trabalho iniciado em "Officium" (1994). No ano anterior, saiu "Rites", um álbum duplo que revisita temas antigos e percorre todos os géneros que o seu saxofone tem abordado ao longo de mais de trinta anos. "Acho que se pode dizer que foi um álbum de resumo da minha carreira. Talvez fosse a altura para fazer um balanço e olhar para trás, para a música que fiz. O que tenho feito entretanto não é revolucionário. É uma evolução tranquila", diz Garbarek. O próximo disco de originais ainda não tem nome, mas está previsto sair no Outono. "É um projecto mais a solo e com música electrónica", conta. "A primeira vez que usei samplers foi no álbum 'All Those Born With Wings', mas tenho utilizado bastante electrónica na música que faço para filmes e espectáculos. O novo álbum é diferente mas continuo a ser eu".Percurso multiculturalJan Garbarek, nascido em 1947, começou a tocar saxofone aos 14 anos quando ouviu John Coltrane. Aos 17, já tocava ao vivo com Don Cherry, a quem dedicou um tema em "Rites".Associado desde os primeiros tempos à editora discográfica ECM, Garbarek foi-se progressivamente afastando do jazz, encontrando fontes para a sua identidade musical nas raízes da música tradicional da Noruega e nos sons do mundo que falavam de alguma maneira a mesma linguagem. "Às vezes ouço músicos e sinto que temos semelhanças, mesmo que eles sejam de outras culturas ou até de outras épocas. Não me interessa se são do Paquistão, da Índia, ou se tocam jazz ou música do passado. Vejo uma ligação, e é isso que interessa", explica.Dessas empatias, nasceu a famosa colaboração com Keith Jarrett, mas Garbarek tocou e gravou com Charlie Haden, Egberto Gismonti, Gary Peacock, só para referir alguns nomes do jazz. Na world music, trabalhou com o paquistanês Ustad Fateh Ali Khan, o indiano Shankar, o tunisino Anouar Brahem ou a grega Eleni Karaindrou.Num percurso tão disparo, Garbarek criou um som muito próprio, mas difícil de rotular. "Quando sou abordado por alguém que não me conhece, por exemplo, num avião, e digo que sou músico, perguntam-me que tipo de música faço e nunca sei o que responder. Se digo que é jazz, pensam em Louis Armstrong ou Duke Ellington ou John Coltrane, e eu não toco como nenhum deles. Se digo que é folk, de facto tem um pouco de música folk, mas não se pode dizer que seja música folk. E tem elementos de música clássica, mas não é música clássica. Acho que estou no meio de todas essas categorias." Dentro da música de fusão, o seu estilo é único, fruto de uma procura e depuração de muitos anos. "O importante é que fiz algo que tem uma identidade e sinto-me confortável com ela."Para quem nunca ouviu, pode não ser fácil imaginar como será o concerto de hoje. Para quem conhece a música de Jan Garbarek, haverá sempre novidade. "Vou tocar material antigo, mas também coisas que ainda nem foram gravadas. É uma coisa que tento sempre fazer."