Portugal com os mesmos ais
No próximo dia 28 de Abril, em Coimbra, a selecção portuguesa e Luiz Felipe Scolari terão uma última oportunidade (frente à Suécia) para vencer uma das selecções que estarão em Portugal para Euro2004 e mostrar que também poderiam estar no grupo de dezasseis equipas por mérito próprio. Ontem, Nuno Valente até colocou o marcador à frente, mas o Estádio Municipal de Braga acabou por assitir aos ais do costume.Bem em cima da hora do jogo, a Federação homenageava Beto pelos 25 jogos pela selecção e Nuno Gomes pelos 100 na soma de todos os escalões. Quatro minutos e pouco depois da primeira apitadela do árbitro Ali Aydin, Portugal acrescentava novos recordes à estatística: de uma assentada, um golo frente à Itália, um inédito há já 11 duelos, e o golo-estreia de Nuno Valente. Quase, quase a frio. Nuno Valente lança e corre, Rui Costa recebe já em zona de alerta máximo e toca ligeiro para Nuno Valente escolher o lado. A receita saía no ponto. Principalmente o meio-campo desenhado em forma de seta: Costinha firme à frente da defesa, Tiago quase sempre no sítio certo logo a seguir e, na ponta, Rui Costa a provar que ainda pode ser o número dez da selecção e que, como disse no dia do seu 32.º aniversário ao site do AC Milan, a sua carreira "não está perto do fim". Primeiro foi a assistência para golo e dos seus pés seguiram-se mais dois momentos de primor: Pauleta agradeceu o passe, mas atirou ao lado (10'); Figo agradeceu o passe, mas foi travado em falta (17').Até ver, notava-se a exagerada lista de faltas de comparência. Faltaram Del Piero e Inzaghi, faltaram Zanetti e Zambrotta e faltou Di Vaio (uma infecção urinária afastou-o em cima da hora). Mas (mais na primeira parte) as ausências mais evidentes foram mesmo as dos centrais Nesta e Canavarro, ontem rendidos por Ferrari e Adani. Não estivesse Pauleta com meias medidas (aos 36') e a falta dos titulares da defesa de Trapatonni ficariam ainda mais à vista. Panucci (o único titular que será preservado até ao Europeu) desarmou o ponta-de-lança português e a bola passou para o lado da Itália, que entretanto afinara a dupla Gattuso/Pilro, motor do AC Milan que Ancelotti empresta nas jornadas de selecção. O primeiro a destruir, o segundo quase de mãos dadas com Fiore e Totti a fazer pela vida - até porque Vieri esteve sempre demasiado ocupado com Jorge Andrade. O corpo de Nuno Valente desviou para a trave o primeiro ensaio (27') do jogador da Roma, o segundo, preparado por Fiore, saiu ligeiramente ao lado, mas tanto forçou... À terceira, Portugal foi apanhado a olhar para o balão. Totti cobrou uma falta e só Vieri deu por ela: centro largo e cabeceamento fatal. Empate no painel gigante e Portugal de regresso a terra.Junto à relva molhada, Portugal pouco mais rendeu. E por alto nem pensar: Pauleta estava em dia não e os rodopios de vento no Municipal de Braga não estavam para brincadeiras. A selecção italiana também não. Um pouco mais mexida, a segunda parte poucas novidades trouxe. Das boas, pelo menos. Luis Boa Morte foi encostado ao corredor esquerdo (depois da brincadeira da véspera, desta vez Nuno Valente saiu mesmo) e Deco e Cristiano Ronaldo lançados às feras. A resposta de Trapatonni nem precisava ser tão avassaladora. Saem quatro, entram outros quatro, saem mais dois, entram outros tantos e a Itália subiu de rendimento. O trabalho de casa estava à vista: velocidade pura. E a tal "fantasia" de que falava o treinador italiano na véspera. Sem Totti, sem Pilro, sem Gattuso, sem Vieri. Querem mais? Penalti indiscutível (mas perdoado por Ali Aydin) de Boa Morte sobre Camoranesi (que até já estava totalmente desequilibrado) e a estocada final de Fabrizio Miccoli com uma mãozinha de Ricardo, que deu muito pouco para a caixa. O canto foi apontado na esquerda, a bola Nike com as linhas de um chupa-chupa passou por Boa Morte (escorregou) e pelo guarda-redes, irremediavelmente batido. Hélder Postiga ainda parece ser carregado na área contrária, Nuno Gomes e Cristiano Ronaldo ainda podiam ter empatado, ainda esteve em campo o "sistema scolariano" (Beto no miolo, Deco na direita e fé em Deus). Mas essa é outra história. A máquina italiana já estava em campo, Portugal ainda é de outro campeonato.